Cuidar da floresta com inovação e conhecimento

26 de Junho 2025

A silvicultura está a transformar-se com o poder da inovação e da partilha de conhecimento.

Do melhoramento genético à digitalização das operações, as práticas florestais evoluem para enfrentar os desafios das alterações climáticas, promovendo florestas mais produtivas, saudáveis e sustentáveis.

A silvicultura tem evoluído significativamente nas últimas décadas, impulsionada pela inovação e pela disseminação do conhecimento técnico e científico. Este avanço reflete a crescente importância de práticas sustentáveis que maximizem a produtividade florestal, reduzam riscos e protejam o meio ambiente.

Em Portugal, a capacidade de adaptação do Eucalyptus globulus ao solo e ao clima locais destacou o seu potencial como motor de riqueza económica. Contudo, para assegurar esta oportunidade, foram essenciais investimentos robustos em investigação e desenvolvimento (I&D). Desde modelos de crescimento e melhoramento genético, até estratégias de combate a pragas e doenças, a silvicultura portuguesa tem sido palco de avanços que visam não só a eficiência produtiva, mas também o pilar ambiental da sustentabilidade.

Atualmente, as operações florestais evoluem ao ritmo das novas tecnologias e da digitalização, enquanto o conhecimento adquirido é partilhado com produtores e técnicos. Esta transferência de saber é essencial para implementar práticas modernas e adaptadas, garantindo uma gestão florestal responsável e resiliente.

A investigação na área da silvicultura incidiu desde cedo nos modelos de crescimento e produção da espécie, no seu melhoramento genético, na sua suscetibilidade a pragas e doenças, na sua relação com os solos e a água, bem como em práticas de preparação do terreno para plantação, adubação e condução de povoamentos em regime de talhadia, em que se selecionam os rebentos mais vigorosos (após o corte das árvores) para um novo ciclo de crescimento do eucalipto, sem a necessidade de intervenção ao nível do solo.

Mais recentemente, emergiram outros temas, tais como a relação da espécie com o ambiente, no contexto das alterações climáticas, o controlo de invasoras, ou a aplicação de novas tecnologias na floresta e a digitalização das operações.

Crescimento e modelos de produção

Com vista a conhecer melhor  a aptidão florestal do Eucalyptus globulus e o seu potencial produtivo para diferentes condições de solo e de clima, foram desenvolvidas metodologias específicas, como a zonagem edafoclimática, que permitiu caracterizar o território continental de Portugal em mais de 70 regiões de produtividade e associar a cada uma delas recomendações específicas de tipos de planta e práticas silvícolas, customizando, assim, os diferentes modelos de silvicultura do eucalipto que se praticam em Portugal. Esta metodologia deu também origem a diversas cartografias de solo, clima, região de produtividade, riscos bióticos e riscos abióticos.

Atualmente, mais de 200 mil hectares foram sujeitos a esta caracterização, fornecendo dados que melhoram a estimativa da produtividade nos investimentos florestais, diminuindo custos de produção e indicando as práticas mais adequadas a utilizar em diferentes ambientes.

40 anos de melhoramento genético

O melhoramento genético do eucalipto traduz-se em ganhos de produtividade, maior resistência a pragas e doenças e maior resiliência a fatores de stress ambiental, tendo, por isso, recebido a atenção da academia e dos departamentos de I&D de empresas de base florestal.

A planta melhorada pode ser de origem seminal, resultando do cruzamento de indivíduos com desempenho destacado, ou de origem clonal, quando resulta da propagação vegetativa de clones selecionados.

Os clones maximizam os ganhos de produção através da possibilidade de plantar cópias com as características genéticas específicas de indivíduos selecionados, que vão gerar ganhos a diversos níveis, como produtividade, resistência a pragas e doenças, tolerância à secura e ainda relativos às propriedades da madeira.

Atualmente, os ganhos genéticos dos clones e dos materiais seminais melhorados via polinização controlada ultrapassam os 40% em produção de volume de madeira relativamente a material não melhorado.

As plantas melhoradas que as empresas do setor utilizam nas suas florestações são produzidas em viveiros próprios, estando também disponíveis para terceiros.

A investigação em melhoramento genético está hoje cada vez mais direcionada para a tolerância das plantas à secura e às pragas e doenças, no contexto das alterações climáticas. Para além da diversidade genética, estão hoje disponíveis plantas híbridas entre várias espécies de eucalipto, com maior resiliência perante, por exemplo, condições hídricas extremas, seja de défice ou de encharcamento dos solos, bem como a ataques intensos de gorgulho. A utilização de plantas híbridas permite obter uma floresta mais homogénea, com menor mortalidade e maior crescimento das plantas, mais resiliente a riscos bióticos e abióticos e com propriedades da madeira adequadas para o processo industrial.

 A silvicultura portuguesa tem sido palco de avanços que visam não só a eficiência produtiva, mas também o pilar ambiental da sustentabilidade. A transferência de saber é essencial para implementar práticas modernas e adaptadas, garantindo uma gestão florestal responsável e resiliente.