A floresta de eucalipto é a base da indústria da pasta e papel, mas é muito mais do que isso. Num mundo ávido por soluções sustentáveis, a madeira de eucalipto é um bom aliado para criar produtos e abordagens inovadores.
Em tronco ou triturada, a madeira de eucalipto tornou-se um substrato popular para o cultivo de espécies hortícolas, numa solução totalmente sustentável, uma vez que permite a utilização de madeira proveniente da desmatação e limpeza das propriedades, enquanto garante melhores produtos.
A Aromas e Boletos, empresa de biotecnologia de Leiria que trabalha nas áreas da micologia, ambiente e sustentabilidade, fornece packs de madeira inoculada de eucalipto e carvalho aos produtores de cogumelos. Norberto Costa, um dos formadores da empresa, aponta as vantagens da utilização da madeira de eucalipto na produção de cogumelos shitake: “Além de ser abundante, tem um tronco bastante reto, que facilita a criação dos packs, e tem bastante lenhina, o que faz com que sustente bem a produção”.
O processo de inoculação é relativamente simples. “O tronco, geralmente com um metro de comprido e oito a 20 centímetros de diâmetro, é inoculado com o micélio, seguindo-se um período de incubação de quatro a seis meses. A partir daí, a madeira vai iniciar ciclos de produção mensal durante perto de quatro anos, sem necessidade de qualquer procedimento adicional”, explica o técnico. O resultado são cogumelos mais carnudos, com aroma mais acentuado e textura mais forte.
A par com produtores comerciais, a Aromas e Boletos fornece packs para o consumidor final. “No último ano assistimos a um aumento substancial da procura, com cada vez mais pessoas interessadas em cultivar cogumelos em casa”, recorda Norberto Costa.
Afinal, basta colocar o tronco num local protegido do sol, para que não perca a humidade, para ter cogumelos disponíveis ao longo de todo o mês.
Agricultura 4.0
No Fundão, a start-up Shimejito também tem o cultivo de cogumelos como ponto de partida, mas com uma estrutura de negócio diferente. Inserindo-se numa lógica de agricultura 4.0, tem várias vertentes complementares: vende um modelo de negócio para criação de quintas de produção de cogumelos em potes; na fábrica, cria o substrato inoculado feito a partir de serradura e farelo de trigo, que é depois fornecido semanalmente às quintas; e serve de intermediário na venda dos cogumelos, funcionando como uma ponte entre os produtores e os seus clientes.
No Brasil, onde o projeto deu os primeiros passos, o seu fundador, Adriel Rodrigues, utilizava serradura de eucalipto devido à disponibilidade e ao alto teor de lenhina, benéfica para o cultivo de cogumelos. No Fundão, a Shimejito tem uma parceria com a Junta de Freguesia de Alcaide – a capital do cogumelo da região –, que fornece madeira de pinho biológica, proveniente da limpeza das florestas da freguesia. Mas é da madeira de eucalipto que depende a expansão do negócio, para a serradura a ser usada no substrato criado nas fábricas que a empresa pretende abrir em vários pontos do país e no estrangeiro: “A nossa possibilidade de escalabilidade global vem do eucalipto”, garante Adriel.
Quer seja para negócio ou para consumo próprio, criar cogumelos com a ajuda da madeira de eucalipto é um exemplo recente da simbiose que, naturalmente, sempre existiu nas florestas.
Crédito Fotografia
©Aromas e Boletos