Da investigação para o mercado

31 de Agosto 2022

O RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, tem um novo Laboratório-piloto de Biorrefinarias e Bioprodutos, para servir de suporte a novos negócios a partir da celulose e da biomassa. É o caso dos biocompósitos e do óleo essencial de eucalipto.

“É aqui que a magia acontece.” Alexandre Gaspar, responsável da área de scale-up e novos negócios do RAIZ, refere-se à entrada de celulose, plástico e aditivos na nova máquina de produção de compósitos, mas a expressão aplica-se a todo o laboratório-piloto. Este edifício de 310 metros quadrados, instalado na Quinta de São Francisco, com um investimento superior a 1,35 milhões de euros, vai permitir passar de uma escala laboratorial para uma escala pré-industrial.

Alexandre Gaspar, responsável da área de

scale-up e novos negócios do RAIZ.

O investimento mais significativo é na área dos biocompósitos, em estudo desde 2010, para usar a pasta de celulose na substituição de plásticos de origem petroquímica ou bioplásticos.

A intenção é “desenvolver produto que depois possa ser produzido numa unidade industrial”, avança o diretor-geral do RAIZ, Carlos Pascoal Neto. Anteriormente, com o recurso a parceiros externos, alguns dos quais no estrangeiro, produzir um compósito para testar em situação industrial podia demorar entre seis e sete meses. Agora, com a máquina que mistura fibra de celulose com polímeros termoplásticos ou bioplásticos, ligada a uma extrusora que transforma a mistura em pellets comercializáveis para a indústria de injeção de plásticos, tudo acontece numa semana.

A mais-valia do eucalipto globulus

Com este objetivo de testar negócios, está já instalada uma unidade de recuperação de óleos. Portugal já foi o maior produtor do mundo de óleos essenciais de eucalipto, há cerca de 40 anos, mas, entretanto, o negócio deslocou-se para a China. “Com a mecanização da recolha da rama, que se iniciou após a instalação de caldeiras de biomassa em Portugal, surge de novo uma oportunidade nesta área”, garante Alexandre Gaspar. “O mercado diz que prefere o óleo de eucalipto português, porque é mais rico. Por ser globulus, tem maior rendimento no composto principal: saindo já com 65% de cineol, é logo vendável” para produtos como medicamentos para a tosse e a garganta, perfumes e detergentes. Por cada tonelada que entra na extratora saem sete a oito litros de óleo, o que permite já avaliar as melhores condições de extração, com vista a, depois, avançar para uma unidade industrial da Navigator.

Até final de 2022, deverão chegar ainda dois equipamentos para o tratamento de superfície dos papéis, para testar a produção de propriedades barreira à água, às gorduras e ao oxigénio, seja por laminagem (colocação de uma película) de bioplástico à superfície, seja com um equipamento piloto para revestimento com produtos aquosos que permitem a reciclabilidade e biodegradabilidade dos produtos. “Uma aposta séria nesta área da embalagem sustentável”, garante Carlos Pascoal Neto.

Carlos Pascoal Neto, diretor-geral do RAIZ.

O RAIZ tem como associados a The Navigator Company, as universidades de Aveiro e Coimbra, e o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.