Descoberta nova colónia de abutre-preto

2 de Agosto 2024

Após mais de 50 anos de ausência, a população deste “gigante dos céus” continua a recuperar.

A colónia de abutre-preto (Aegypius monachus) descoberta no Alentejo no início do mês, durante uma ação de monitorização do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), é uma excelente notícia, tendo em conta que a espécie se encontra classificada como “Criticamente em Perigo” em Portugal.  Além disso, é considerada uma espécie de interesse comunitário e prioritária no contexto da Diretiva Aves.

Dez indivíduos adultos e um juvenil foram identificados como fazendo parte desta nova colónia. Mas pode haver mais. Os ninhos são pelo menos quatro e estão localizados na Herdade do Monte da Ribeira, no concelho da Vidigueira. A descoberta faz subir para cinco o número de colónias desta espécie no nosso país.

Segundo o comunicado do ICNF, a Direção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, em parceria com os proprietários da herdade, já iniciaram os procedimentos necessários para monitorizar e salvaguardar a colónia, identificada em plena época de reprodução – que ocorre entre fevereiro e agosto.

Um regresso após mais de 50 anos de ausência

O reaparecimento do abutre-preto em Portugal como espécie nidificante ocorreu em 2010, após uma ausência que durou mais de cinco décadas. Foram identificadas, desde então, colónias situadas em áreas protegidas como o Parque Natural do Tejo Internacional, a Serra da Malcata e o Parque Natural do Douro Internacional. Em 2019, foi descoberta uma colónia em Moura, Alentejo, na Herdade da Contenda.

Para dar uma “ajuda” à espécie e contribuir para que este seja um regresso consistente, teve início em 2022 um projeto LIFE com financiamento europeu: “Aegypius return – Consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha”. O projeto conta com colaboração do ICNF e irá decorrer até 2027. Um dos objetivos é duplicar a população reprodutora da espécie no nosso país, através de medidas centradas na melhoria do seu habitat e das condições de alimentação, bem como na mitigação dos fatores de ameaça.

Segundo os dados apurados pelo “Aegypius return”, existem já entre 78 e 81 casais a nidificar em território português.

A maior ave de rapina da Europa

O abutre-preto é uma ave necrófaga que pode viver 20 anos em estado selvagem e até 35 em cativeiro. Se a sua longevidade é impressionante, o seu tamanho, igualmente notável, faz desta espécie a maior ave de rapina da Europa e uma das maiores do mundo. Em voo, ostenta uma envergadura de asa de cerca de três metros e o seu peso pode chegar aos 11,5 kg. “Um verdadeiro gigante dos céus”, lê-se na página do projeto “Aegypius Return”.

Recuperar habitats é promover a biodiversidade

O abutre-preto prefere regiões remotas, de difícil acesso e reduzida ocupação humana. Vive, normalmente, em locais com extensas manchas florestais ou matagais arborizados. Sendo a degradação dos habitats um dos fatores que ameaçam a conservação da espécie, qualquer ação de restauro em potenciais zonas de nidificação será um contributo para a sua recuperação.

É o caso do projeto “Zambujo reCover – Projeto de requalificação florestal e proteção de solos”, que a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, está a promover na sua propriedade Zambujo, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional. Foi precisamente nesta zona protegida que foi descoberta, em 2010, a primeira colónia de abutre-preto, após a espécie ter voltado a nidificar em território nacional. E é também nesta zona que se encontram a maioria dos casais identificados em Portugal.

A ação de restauro Zambujo reCover abrange 110 hectares – o equivalente a 110 campos de futebol – e pretende promover a resiliência do habitat aos efeitos da desertificação, das alterações climáticas e dos incêndios, através de espécies arbóreas e arbustivas com ecologia adaptada à seca e à aridez. A promoção de ações de restauro de ecossistemas e reabilitação de habitats é um dos pilares da estratégia de conservação e promoção da biodiversidade da Navigator.

O abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa, encontra-se “Criticamente em Perigo” em Portugal.