Dobragens que inspiram a inovação

10 de Novembro 2025

Durante séculos, o origami foi visto apenas como uma arte delicada. Hoje, tornou-se uma ferramenta estratégica da engenharia moderna. A forma como uma folha plana se transforma numa estrutura tridimensional resistente e flexível, sem acrescentar material, está a inspirar soluções tecnológicas mais leves, eficientes e sustentáveis.

A geometria das dobragens, inspirada em padrões naturais, como as folhas que se enrolam, as asas dos insetos que se retraem ou as conchas que se formam em espiral, está a permitir criar estruturas leves, expansíveis e energeticamente eficientes. Este casamento entre criatividade ancestral e ciência de ponta tem um nome: biomimética (do grego “Biomimesis”, onde “bios” significa vida e “mimesis”, imitação), a disciplina que estuda a forma como a natureza cria e adapta estruturas complexas com simplicidade.

É desse diálogo entre observação e engenharia que nasce o chamado origami estrutural, um ramo da biomimética que transforma dobragens em inovação.

Ao contrário de outras técnicas de construção, o origami permite transformar uma superfície plana numa estrutura tridimensional resistente sem adicionar material, apenas reorganizando-o. Esta abordagem reduz o consumo de matérias-primas e permite criar dispositivos compactos que se expandem apenas quando necessário, reduzindo a pegada ecológica na produção e no transporte.

Energia solar que viaja dobrada

Um dos maiores desafios na exploração espacial é transportar estruturas grandes em foguetes com espaço limitado. A NASA recorreu a padrões de origami para desenhar painéis solares ultrafinos, que se dobram como acordeões e viajam compactados, expandindo-se automaticamente em órbita, com precisão milimétrica. O resultado: painéis com mais área de captação, menos peso e menor risco de falha mecânica.

O projeto Starshade, da NASA, é um exemplo real desta aplicação: utiliza uma estrutura tipo flor de origami para bloquear a luz das estrelas e permitir a observação de exoplanetas.

Os padrões utilizados baseiam-se na dobragem Miura, desenvolvida pelo astrofísico japonês Koryo Miura na década de 1970.

Micro-robôs médicos que se transformam dentro do corpo

Na medicina, o origami é uma revolução funcional. Pequenos robôs e instrumentos cirúrgicos são introduzidos no corpo em forma compacta e depois “desbloqueiam” a sua forma funcional apenas no local exato da intervenção. Por exemplo, investigadores do MIT, em colaboração com a Universidade de Sheffield e o Instituto de Tecnologia de Tóquio, criaram um micro-robô biodegradável que pode ser engolido. Dentro do corpo, desdobra-se com o calor e os movimentos do estômago e é guiado magneticamente para remover objetos ou tratar feridas internas. O robô dissolve-se depois de cumprir a sua função, dispensando cirurgias invasivas e reduzindo riscos clínicos.

Antenas espaciais que se abrem no espaço

A Agência Espacial Japonesa (JAXA) e a Agência Espacial Europeia (ESA) testaram antenas gigantes dobráveis que cabem dentro de um foguetão e se desdobram no espaço com total fiabilidade. A missão ETS-VIII (Kiku-8), lançada em 2006, foi pioneira: utilizou duas antenas de 19 metros de diâmetro, que se abriram em órbita geostacionária de forma controlada e bem-sucedida.

Estas estruturas, baseadas em princípios de engenharia semelhantes aos do origami, tornaram-se referência para o desenvolvimento de antenas e painéis de comunicação dobráveis usados hoje em CubeSats – pequenos satélites modulares do tamanho de uma caixa – e noutros microssatélites.

Menos materiais, mais eficiência

O uso de estruturas dobráveis permite reduzir o consumo de matérias-primas; minimizar o uso de combustíveis no transporte; criar dispositivos reparáveis e reconfiguráveis; inspirar soluções baseadas na natureza, com menor desperdício. A grande lição do origami é simples e poderosa: não é preciso mais, é preciso dobrar melhor.

O que começou com papel transformou-se numa linguagem universal de inovação, onde a natureza e a geometria se encontram para criar um futuro mais sustentável, mostrando como a natureza e a simplicidade podem inspirar soluções de ponta.