E se construíssemos um satélite de madeira?

25 de Março 2024

Preocupados com os impactos da poluição espacial na órbita da Terra, cientistas japoneses desenvolveram um novo satélite de madeira. Em breve, estará no espaço, de forma a testar a sua resistência.

Um grupo de cientistas japoneses liderado por Koji Murata, investigador da Universidade de Quioto, construiu um satélite em madeira – a sonda LignoSat – como uma alternativa biodegradável aos satélites de metal que são regularmente enviados para o espaço. Na sua reentrada na atmosfera, em fim de vida, estes últimos estão a criar uma camada de lixo espacial que hoje levanta riscos a vários níveis, incluindo possíveis impactos ambientais negativos no Planeta. O lixo espacial é, cada vez mais, uma preocupação, e a utilização de materiais biodegradáveis, como a madeira, nos satélites pode ser a solução.

“Se usarmos madeira aqui na Terra, podemos enfrentar problemas de combustão, apodrecimento e deformação. Mas no espaço, essas questões não existem: não há oxigénio, pelo que a madeira não arde. E não há seres vivos, por isso, também não apodrece”, explicou Koji Murata à CNN. Além disso, ao contrário do metal, a madeira queima completamente ao reentrar na atmosfera terrestre, produzindo apenas uma fina pulverização de cinzas biodegradáveis. Não há, assim, lugar para a libertação de substâncias nocivas ou detritos no processo, como acontece com o metal.

O lançamento do LignoSat, numa missão teste, poderá acontecer já neste verão. Tem o tamanho de uma caneca e deve operar no espaço durante pelo menos seis meses antes de reentrar na atmosfera superior.

Porque é que o lixo espacial é um problema?

A Agência Espacial Europeia, estima que existam em órbita 36 500 objetos com uma dimensão superior a 10 cm considerados lixo espacial. Os detritos mais pequenos são muito mais numerosos: 1 milhão de objetos que medem entre 1 e 10 cm; e 130 milhões com dimensões que vão de 1 mm a 1 cm. Além destes detritos de dimensões variadas, que acabam por formar uma camada de toneladas de lixo espacial na órbita baixa da Terra, condicionando e pondo em risco a circulação de satélites ativos, são libertadas pequenas partículas de óxido de alumínio que ficam suspensas na alta atmosfera, durante muitos anos.

Uma investigação recente realizada por cientistas da Universidade da Columbia Britânica, do Canadá, revelou que as partículas libertadas na reentrada dos satélites na atmosfera poderá causar graves danos à camada do ozono, prejudicando a proteção da Terra contra os raios ultravioleta e aumentando a exposição da luz solar no planeta. “Todos os satélites que reentram na atmosfera da Terra queimam, criando minúsculas partículas de óxido de alumínio, que ali flutuarão durante muitos anos. Isso afetará o meio ambiente do planeta, o que nos deixa muito preocupados”, afirmou Takao Doi, astronauta e engenheiro aeroespacial da equipa de Koji Murata, ao jornal inglês Observer.

Ao contrário do metal, a madeira queima completamente ao reentrar na atmosfera terrestre, libertando apenas uma fina pulverização de cinzas biodegradáveis.