Engenheiros da Boeing nos EUA batem recorde do Guiness com avião feito em papel Navigator

26 de Maio 2023

Três engenheiros do setor aeronáutico, dois dos quais da Boeing, projetaram um avião de papel que bateu o recorde mundial de distância de voo. A “fuselagem” foi construída em papel Navigator 100 g/m2, dada a ” melhor relação custo-eficiência” e ” a sua estrutura firme”, conta Dillon Ruble, engenheiro apaixonado por origami, à My Planet.

Na sua vida profissional, lidam com aviões a sério. Dillon Ruble e Garrett Jensen trabalham na Boeing, o gigante mundial da aeronáutica, que nos deu modelos tão icónicos como o Boeing 737 e o 747, ou o disruptivo 787 “Dreamliner”. Nathan Erickson está na Garmin, a famosa fabricante de sistemas de navegação e de voo. Recém-formados em Engenharia Aeroespacial e Mecânica, conheceram-se na Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri e partilham o gosto pelo origami. O conhecimento adquirido na Engenharia moldou esta paixão pessoal e foi o motor do avião de papel com que bateram o Recorde Guinness para a maior distância: um voo de 88 metros – quase o comprimento de um campo de futebol.

“Foi um daqueles momentos: isto aconteceu mesmo?” – Dillon Ruble recorda assim o dia em que lançou o avião que aterrou diretamente no livro de recordes mundiais do Guinness, em dezembro de 2022.

Para quem se pergunta o que leva engenheiros aeroespaciais, que projetam e trabalham em aviões à escala real, a dedicar-se de alma e coração a desenhar protótipos de papel e a fazê-los voar o mais longe possível, Dillon revela que os dois “mundos” não estão assim tão distantes: “Os aviões de papel e os aviões à escala real têm muitas diferenças na sua complexidade, mas operam ambos segundo os mesmos princípios. As forças básicas de impulso, sustentação, arrasto e peso podem ser utilizadas para teorizar padrões de dobragem do papel.”

O protótipo que permitiu bater o recorde mundial de distância foi, de resto, inspirado em modelos de aviões hipersónicos, que podem deslocar-se a velocidades cinco vezes superiores à velocidade do som. Daí o avião de papel ter sido batizado de Mach 5.

“Passámos perto de 500 horas a criar diferentes protótipos, projetando um avião que pudesse voar mais longe”, refere Dillon.

“Um processo repetido de prototipagem foi o principal fator por trás do nosso sucesso. Teorizámos sobre as mudanças que poderíamos fazer na estrutura, dobrámos e comparámos os resultados com projetos anteriores. Através deste método, conseguimos melhorar gradualmente o design, uma dobra de cada vez. Ganhar dois ou três metros após cada reformulação pode não parecer muito, mas para um recorde mundial, cada centímetro conta”, explica o engenheiro da Boeing.

 

A descoberta do papel Navigator

Para bater o recorde mundial de maior distância percorrida por um avião de papel, Dillon e a equipa começaram por criar protótipos usando folhas de tamanho Carta (Letter), o mais comum nos EUA. “No entanto, à medida que o design foi sendo aperfeiçoado, decidimos mudar para papel A4”, conta. “Percebemos que este formato tornava mais fáceis várias dobras críticas, e conduzia a um melhor desempenho. Além disso, optámos por usar o papel mais denso que o Guinness World Record permite, ou seja, 100 gramas (g/m²)”, acrescenta.

Foi nesta fase que a equipa descobriu o papel da The Navigator Company, que acabaria por dar forma à “fuselagem” do avião recordista. Dillon explica as razões que levaram à escolha: “É a melhor relação custo-eficiência em papéis de 100 g e a sua estrutura firme revelou-se ideal para um avião de papel de alto desempenho. Por um lado, a força de arrasto exercida sobre um avião pesado desacelera-o menos do que acontece com um mais leve, e, por outro, a firmeza deste papel permite que o avião consiga manter a sua forma mais eficazmente durante o voo.”

“Não conhecíamos a marca antes deste projeto, mas depois de experimentarmos vários outros tipos de papel, o Navigator A4 100 g/m² é agora o nosso papel de eleição para obter o melhor desempenho com os nossos aviões”, conclui.


O fascínio do papel

O fascínio do papel está na facilidade e simplicidade com que se testam os designs e as técnicas de lançamento. “O papel oferece vantagens únicas”, assegura Dillon. “A primeira é a relação entre a área de superfície e o peso, que permite a criação de determinados modelos, como planadores e híbridos, que dependem de asas grandes e de baixo peso para percorrer grandes distâncias”, explica. Mas há mais: “A segunda grande vantagem do papel é o seu potencial para criar formas complexas a partir de uma simples folha. Alterando algumas dobras num avião de papel, a forma final e o desempenho podem ser adaptados para qualquer resultado desejado. A maleabilidade do papel para alcançar estas formas complexas é o que permite o lado criativo deste hobby.”

E há o outro lado deste suporte: “O papel ainda é importante nas nossas vidas porque oferece uma sensação de autenticidade a qualquer conteúdo que nele é impresso. A sua natureza tangível presta-se a um maior prazer na visualização. Toda a nossa equipa prefere livros físicos aos digitais. Existe uma sensação física quando seguramos um livro real que não pode ser substituída noutros suportes sem que percamos algo em troca”.

Veja aqui o vídeo do momento em que o recorde é batido.

Novos designs, novos voos

Poder-se-ia pensar que a conquista do recorde do Guinness teria deixado o assunto “aviões de papel” encerrado nas ambições de Dillon. Pelo contrário, a proeza mundial, aliada ao espírito competitivo e à paixão por dar vida ao papel, fizeram com que sonhasse mais alto: “A próxima competição do Red Bull Paper Wings é só em 2025, mas já estou ansioso para competir de novo e testar novos designs de aviões de papel nos próximos anos”.

A Boeing deu todo o apoio a esta iniciativa de Dillon, considerando que “quebrar recordes é mais do que apenas um número, é desafiar-nos a nós mesmos para chegar um pouco mais longe e trabalhar um pouco mais”.

“Valorizamos o desejo de nos melhorarmos constantemente, os nossos designs e o mundo que nos rodeia. Através desta conquista, esperamos estimular a criatividade, inspirar as pessoas a perseguir os seus sonhos e promover os talentos de engenharia da próxima geração”, conclui a companhia.


Da esquerda para a direita: Dillon Ruble, Garrett Jensen e Nathan Erickson.