Espécies migratórias: quase metade estão em declínio

26 de Fevereiro 2024

A ação humana tem posto em risco as migrações de aves, tartarugas marinhas, peixes, baleias, tubarões e outros animais. Um novo relatório da ONU lança o alerta: 44% destas espécies estão em declínio e 20% estão ameaçadas de extinção.

O relatório State of de World’s Migratory Species (Estado das Espécies Migratórias do Mundo), divulgado este mês, “apresenta evidências de que as atividades humanas insustentáveis estão a ameaçar o futuro das espécies migratórias”. As palavras são de Inger Andersen, chefe do Programa Ambiental da ONU, na sequência da divulgação deste que é o primeiro relatório da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS). As principais conclusões são também um aviso: 44% das espécies migratórias sob proteção internacional estão em declínio e 20% encontram-se ameaçadas de extinção. A vida marítima é a mais afetada: 97% dos peixes avaliados encontram-se em risco.

O foco principal do relatório foram as 1.189 espécies reconhecidas pela CMS como necessitadas de proteção internacional. O estudo identificou ainda 399 espécies migratórias em situação de ameaça ou quase ameaça de extinção, mas que não estão nesta lista.

O State of de World’s Migratory Species divulgado no dia 12 de fevereiro, em Samarcanda, no Uzbequistão, onde Kelly Malsch, principal autora do documento, identificou as razões para o atual cenário. “Sobre-exploração e perda de habitat devido à atividade humana. Estamos a falar de espécies que se movem por todo o mundo. Deslocam-se para se alimentarem e procriar, pelo que precisam de locais próprios para algumas paragens durante o caminho”, explicou. Se esses locais forem afetados pelo ser humano – seja no ar, na terra ou no mar, pela caça e pesca ilegais, pelo aumento da poluição ou pelas alterações climáticas –, a sobrevivência dessas espécies fica em perigo.

Segundo Amy Fraenkel, secretária-executiva da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens, as ameaças que estas espécies enfrentam trarão problemas acrescidos à Humanidade. “O próprio fenómeno da migração já está em perigo, porque existem barreiras e porque os habitats de que estes animais necessitam podem ficar sob pressão. Não podemos esquecer-nos de que eles não só atuam como indicadores das alterações ambientais, como também desempenham um papel importante na manutenção das funções dos complexos ecossistemas do nosso planeta e na garantia da sua resiliência”, afirmou, em tom de alerta.

Sete ações prioritárias

O relatório identifica as sete ações a priorizar para proteger, conectar e restaurar os habitats usados pelas espécies migratórias:

  • Identificar locais-chave para todas as espécies ao longo das suas rotas migratórias;
  • Aumentar a cobertura das Áreas-Chave para a Biodiversidade (KBA ou Key Biodiversity Areas) e outros habitats críticos por áreas protegidas e conservadas;
  • Melhorar a eficácia da gestão das áreas protegidas e conservadas;
  • Estabelecer, apoiar e ampliar a monitorização regional de locais importantes para as espécies migratórias;
  • Cumprir os compromissos de restauro dos ecossistemas, incluindo os vinculados à Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas e ao Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal;
  • Dar prioridade à conectividade ecológica na identificação, conceção e gestão contínua das zonas protegidas e conservadas;
  • Minimizar os impactos negativos dos projetos de infraestruturas nas rotas migratórias, nas rotas marítimas e nas vias de migração das espécies migratórias.

As ameaças que as espécies migratórias enfrentam trarão problemas acrescidos à Humanidade. Estes animais desempenham um papel importante na manutenção das funções dos complexos ecossistemas do nosso planeta.