Eucalipto em Portugal: um migrante nacionalizado

4 de Setembro 2025

Pedro Filipe Silva, Sustainability Manager na The Navigator Company, defende que as novas gerações precisam de conhecer a história do eucalipto em Portugal.

O século XX marcou o início da era dos renováveis para a humanidade. E foi, de facto, durante esse período que Portugal desenvolveu a sua floresta plantada e renovável.

Já no final do século anterior, uma árvore migrante da Tasmânia tinha encontrado em Portugal as condições de solo e clima para se naturalizar e renovar: o Eucalyptus globulus.

A adaptabilidade e produtividade florestal desta espécie no nosso país revelaram-se evidentes. E o elevado rendimento na transformação e as características mecânicas, físicas e óticas da sua fibra permitiram que a indústria nacional, primeiro de pasta e depois de papel, fosse pioneira a nível mundial na sua utilização, com os seus produtos reconhecidos internacionalmente.

O crescimento da indústria a nível nacional na segunda metade do século passado aumentou a procura por esta matéria-prima, gerando, simultaneamente, um impacto positivo crescente na nossa balança comercial e na geração de emprego. As exportações da indústria de pasta e papel são, hoje, as que trazem maior valor acrescentado ao país.

A investigação científica e o desenvolvimento tecnológico em torno do Eucalyptus globulus em Portugal acompanharam esse crescimento. A indústria contribuiu com diversos programas de I&D, também para dar resposta a reações e vozes de protesto que surgiram contra esta árvore, sobretudo a partir do final da década de 1980.

Ao longo dos anos, os debates ideológicos têm vindo a influenciar políticas públicas. E, apesar da posição de destaque que Portugal ocupa atualmente no setor de pasta e papel, tanto a nível europeu como mundial, o crescimento da indústria está limitado por regulamentações que condicionam a sua sustentabilidade e obrigam o país a importar matéria-prima de qualidade inferior.

É importante que as novas gerações conheçam a história, para melhor prospetivar o futuro. Depois de termos poluído os oceanos, a humanidade aprendeu que é necessário substituir produtos de origem fóssil por produtos renováveis, biodegradáveis e mais sustentáveis.

A indústria de pasta e papel nacional está naturalmente bem posicionada para oferecer soluções inovadoras. Recorrendo ao Eucalyptus globulus, consegue produzir até sete vezes mais superfície de papel com a mesma área de floresta que um pinhal na Escandinávia. Além disso, o papel resultante, depois de utilizado, pode ser reciclado até seis vezes mais que um papel de acácia da Indonésia, gerando, mesmo após dez reciclagens, produtos de qualidade superior aos produzidos com eucalipto brasileiro após apenas uma reciclagem.

Sem conhecer os factos, a opinião pública tende a ser baseada apenas em atitudes. É fundamental informar corretamente os jovens nas escolas, pois considero que ainda persistem alguns mitos sobre o eucalipto que, certamente, a própria história se encarregará de eliminar no futuro. Assim o debate ideológico dê lugar a uma discussão baseada em dados técnicos e rigorosos.

Por Pedro Filipe Silva, Sustainability Manager na The Navigator Company