Eucalipto português: um reconhecimento necessário

24 de Junho 2025

Francisco Gomes da Silva, professor do Instituto Superior de Agronomia, escreve sobre a relevância nacional das florestas plantadas de eucalipto e a importância de partilhar conhecimento acerca deste valioso recurso.

Ao longo do último ano tive o privilégio de participar ativamente no Fórum do Eucalipto, integrando o seu Conselho Científico, iniciativa que a The Navigator Company em boa hora promoveu. Durante este ano, o debate em torno da espécie Eucalyptus globulus envolveu mais de uma centena de pessoas oriundas de diversos quadrantes da sociedade portuguesa, com posições distintas em relação a cada uma das múltiplas dimensões através das quais olhamos para esta espécie notável. Entre todas essas posições, quantas vezes discordantes, registo a abertura de espírito e a lealdade com que foi possível avançarmos na discussão em torno de uma espécie tão relevante para o nosso país.

É esta enorme importância, aliás, que suscita, na sociedade portuguesa, debates com posições tão extremadas e apaixonadas que, com frequência, perdem de vista os factos e o conhecimento que temos em Portugal sobre esta espécie e os povoamentos florestais que integra. Ora, o Fórum alcançou, desde logo, uma meta importante, que foi a de juntar toda a informação e conhecimento de base científica que permita, a quem se interesse pelo tema, a tomada de posições bem informadas e fundamentadas.

Enquanto espécie florestal utilizada em Portugal com o objetivo primeiro de produzir matéria-prima para a indústria, o Eucalipto, que tomo a liberdade de apelidar de português devido à sua excecional adaptação a diversas regiões do nosso território, não esgota nessa aparente utilidade limitada, a sua utilidade. Fá-lo, em conjunto com outras espécies, integrando as designadas “florestas plantadas”, que quando geridas de forma sustentável, para além de fornecerem madeira, contribuem para a remoção de CO2 da atmosfera, para a regularização do regime hidrológico (maximizando as taxas de infiltração de água para recarga de aquíferos), para a proteção (e produção!) dos solos e para a manutenção de níveis específicos de biodiversidade.

De forma direta, estas florestas plantadas contribuem para a manutenção de áreas de floresta primitiva de elevado valor natural em diversas geografias do globo, evitando que sejam abatidas para satisfazer as necessidades de madeira. Indiretamente, as florestas plantadas de eucalipto em Portugal contribuem ainda para a redução de emissões de gases com efeito de estufa, ao originarem matérias-primas e produtos substitutos de outros de origem fóssil. São florestas que integram bio-fileiras circulares, em substituição de fileiras lineares sustentadas em matérias-primas de origem fóssil.

Sabemos hoje, através dos múltiplos exemplos registados por entidades insuspeitas, que estas florestas plantadas, desde que geridas de forma sustentável, dão um inestimável contributo para a gestão dos fogos rurais, contrariando algumas perceções que se alicerçam quase sempre no comportamento do fogo em áreas de floresta abandonada, independentemente das espécies que a compõem.

Finalmente, o eucalipto português e as florestas plantadas que integra, sempre que gerido de forma sustentável, assume ainda um papel determinante enquanto suporte social insubstituível para muitas famílias e comunidades que obtêm o seu rendimento a partir da gestão e exploração florestal. Ao cumprirem este papel, as florestas de eucalipto dão um inestimável contributo para a coesão do território nacional, garantindo a existência de atividade económica em zonas das quais, aparentemente, todos já desistiram.

Termino, agradecendo à The Navigator Company a iniciativa deste Fórum. E, enquanto membro do seu Conselho Científico, agradeço penhoradamente a todos quantos (e foram muitos) se empenharam de forma dedicada à discussão dos temas e à redação dos diversos conteúdos que, a seu tempo, surgirão como resultado deste esforço.

Por Francisco Gomes da Silva, Professor do Instituto Superior de Agronomia e Sócio-gerente da Agro.Ges, Membro do Conselho Científico do Fórum do Eucalipto

O Fórum do Eucalipto alcançou, desde logo, uma meta importante, que foi a de juntar toda a informação e conhecimento de base científica que permita, a quem se interesse pelo tema, a tomada de posições bem informadas e fundamentadas.