Eucalipto: uma árvore no centro da bioeconomia

2 de Junho 2025

As propriedades únicas do eucalipto globulus estão na base de soluções inovadoras e sustentáveis, que colocam Portugal numa posição de destaque no novo modelo de bioeconomia circular. Há novos bioprodutos, biomateriais, bioquímicos e biocombustíveis a nascer de grandes investimentos nacionais em I&D.

Para garantir a sustentabilidade do planeta, é preciso mudar profundamente o modo de funcionamento da economia moderna, desenvolvendo soluções inovadoras, através de novos modelos de negócio e com a promoção de modos de vida mais adequados a esses desafios.

Esta mudança implica a transição de uma economia linear, baseada em recursos fósseis e geradora de resíduos, para uma bioeconomia circular, assente em recursos renováveis, que minimize os efeitos sobre o clima, e com plena valorização de subprodutos e resíduos.

As florestas, em particular as plantações florestais, desempenham um papel central na bioeconomia, produzindo biomassa que pode ser convertida em bioprodutos, substituindo produtos obtidos por via petroquímica.

Com a sua atividade assente nestas plantações florestais, a indústria de pasta e papel está particularmente bem posicionada para responder aos desafios da sustentabilidade do planeta. Esta indústria utiliza um recurso renovável como principal matéria-prima, é tendencialmente neutra do ponto de vista do balanço das emissões carbónicas, e os seus processos e produtos, recicláveis e biodegradáveis, são exemplos das melhores práticas de economia circular.

As biorrefinarias da indústria de pasta e papel

Nesse sentido, as fábricas de pasta e papel estão a evoluir para verdadeiras biorrefinarias, com o objetivo de maximizar a utilização eficiente e sustentável de biomassa, minimizando o desperdício e produzindo uma diversidade de produtos com valor agregado.

A biomassa de origem florestal constitui uma das mais importantes matérias-primas para as biorrefinarias, permitindo a produção de diversos materiais, como pastas fibrosas para papel, cartão e produtos moldados, assim como energia e combustíveis, ou compostos químicos para múltiplas aplicações. Ao constituir, por exemplo, uma alternativa aos amidos de cereais e óleos alimentares utilizados como matérias-primas para produção de bioplásticos e biocombustíveis, a biomassa florestal pode diminuir a pressão sobre a utilização dos solos agrícolas para fins não-alimentares.

A inovação como modo de vida

As características da madeira de Eucalyptus globulus foram responsáveis pelo pioneirismo mundial da indústria de pasta e papel nacional. Contrariando o conhecimento e práticas internacionais estabelecidas neste setor, na década de 50 do século passado Portugal produzia pela primeira vez no mundo pasta celulósica de E. globulus pelo processo kraft, bem como papéis de impressão e escrita com 100% de fibra curta. Hoje, Portugal é líder europeu na produção de pastas branqueadas e de papéis de impressão e escrita, produzidos com estas fibras.

Mais recentemente, o nosso país voltou a ser o primeiro no mundo a produzir papéis de embalagem com 100% de fibras de E. globulus – papéis com vantagens competitivas ao nível das suas propriedades mecânicas, da sua capacidade de reciclagem, e com uma compostagem 20% mais rápida no fim do seu ciclo de vida. Também os papéis higiénico-sanitários produzidos com fibras desta espécie apresentam elevada suavidade, competindo hoje nos mercados internacionais.

Esta história de sucesso não parou, bem pelo contrário. Perante a exigência da redução da utilização de materiais fósseis, na forma de energia ou de matéria-prima, as propriedades do Eucalyptus globulus estão a tornar esta espécie num dos grandes protagonistas na nova bioeconomia de base florestal.

A capacidade de inovação tem-se mostrado imparável, fruto dos investimentos em investigação e desenvolvimento que o setor tem realizado na exploração das características únicas da madeira e fibras celulósicas de E. globulus, com destaque para a atividade desenvolvida pelo RAIZ e seus associados e parceiros do sistema científico nacional.

Deste esforço de investimento e inovação estão a resultar novos bioprodutos, biomateriais, bioquímicos e biocombustíveis, alguns em estudo e outros em produção, com potencial para gerarem novas oportunidades de negócio. São exemplo novas aplicações de fibras celulósicas em compósitos de fibra/termoplástico, compostos bioativos a partir da folhagem e casca de eucalipto, ou biocombustíveis avançados.

Um trunfo chamado eucalipto

Os resultados da inovação em curso, independentemente de os processos e bioprodutos estarem ainda em fase de desenvolvimento, de teste pré-industrial ou já em produção, mostram que Portugal tem nas plantações florestais de Eucalyptus globulus uma enorme vantagem competitiva para o desempenho da bioeconomia na utilização sustentável de recursos naturais.

Um desempenho que valoriza o setor florestal através de novos produtos, incluindo o aproveitamento dos resíduos da atividade florestal e industrial para gerar valor adicional à cadeia da indústria da pasta e papel; mas que oferece também a possibilidade da descarbonização a outras atividades, através, por exemplo, da produção de embalagens em substituição do plástico, ou da produção de biofuels e e-fuels.

Portugal, com a sua floresta de eucalipto, as suas empresas, as suas universidades e centros de investigação e desenvolvimento, e com políticas públicas adequadas e racionais, tem condições únicas para se afirmar como um ator mundial nesta nova bioeconomia circular de base florestal. Pode, assim, contribuir para a descarbonização fóssil da economia e para mitigar as alterações climáticas, participando plenamente na quarta revolução industrial: a bio-revolução.

As plantações florestais são essenciais à bioeconomia, produzindo biomassa que pode ser convertida em bioprodutos capazes de substituir os de origem fóssil.