Fazer nascer florestas em tempo recorde

13 de Março 2024

O botânico e ecologista japonês Akira Miyawaki desenvolveu um método de plantação de florestas ligando o conceito de vegetação natural potencial (espécies que existiriam, em determinado local, se não tivesse havido intervenção humana) e a forma como as espécies interagem entre si. A receita permite criar, de forma rápida, ecossistemas florestais densos e resilientes.

O princípio fundamental do método Miyawaki é utilizar espécies que existiriam de forma natural na área a ser florestada e que depois “trabalham” em conjunto para criar um ecossistema florestal resistente e próspero. O conceito nasceu nos anos 70 do século passado, quando Akira Miyawaki, botânico e ecologista japonês, rumou à Alemanha para estudar fitossociologia – análise da forma como as diferentes espécies de plantas interagem dentro das comunidades vegetais. Descobriu o conceito de “vegetação natural potencial” – a que existiria num determinado local se não houvesse intervenção humana – e, ao regressar ao Japão, decidiu aplicar esses princípios, criando um método que, pela sua eficácia e rapidez de resultados, tem sido usado para restaurar e plantar florestas em todo o mundo.

Akira Miyawaki introduziu uma estratificação na estrutura da floresta, combinando espécies de herbáceas, arbustos e árvores. Além disso, preconizou uma série de etapas cruciais: uma análise do solo, para identificar os nutrientes necessários ao bom crescimento das plantas; a recolha de sementes no local, seguida de germinação e plantação em densidades elevadas; e a recriação de uma cobertura do solo que simule a proteção natural feita pelas folhas. Nos dois primeiros anos, a plantação deve ser regada regularmente e “limpa” de ervas daninhas.

Os primeiros resultados dos testes de campo feitos por Miyawaki foram claros: este método iria acelerar bastante – até dez vezes mais rápido – o crescimento da floresta. Uma comunidade florestal estável, de múltiplas camadas, pode ser conseguida num período de 20 a 30 anos, ao invés da habitual média de 150 a 200 anos.

A utilização de várias espécies diferentes, em densidades elevadas e numa estrutura estratificada em diferentes níveis, cria habitats mais complexos, com maior biodiversidade e que fixam mais carbono que outras áreas.

Um bom método também para florestas urbanas

O método Miyawaki tem sido usado em zonas urbanas, com inúmeras vantagens. Desde logo, as florestas urbanas reduzem as temperaturas em aproximadamente 1,3 graus centígrados, melhoram a qualidade do ar (ao reduzir a poluição) e ainda absorvem CO2, melhorando a qualidade de vida e promovendo o bem-estar das pessoas. Além disso, criam uma espécie de oásis natural para invertebrados e aves.

A técnica já foi aplicada em centenas de pequenas florestas urbanas em inúmeros países, incluindo Portugal. O projeto FCULresta, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, usou os princípios de Akira Miyawaki para fazer nascer uma minifloresta densa, biodiversa e multifuncional, junto ao edifício da faculdade, em pleno centro de Lisboa.

Pela sua relevância, o trabalho desenvolvido pelo botânico japonês, que faleceu em 2021, mereceu, em 2006, o Blue Planet Prize – equivalente ao prémio Nobel na ecologia.

A método de Miyawaki já fez crescer, de forma rápida, centenas de pequenas florestas urbanas, incluindo em Portugal. Pode descobrir uma delas junto ao edifício da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.