O botânico e ecologista japonês Akira Miyawaki desenvolveu um método de plantação de florestas ligando o conceito de vegetação natural potencial (espécies que existiriam, em determinado local, se não tivesse havido intervenção humana) e a forma como as espécies interagem entre si. A receita permite criar, de forma rápida, ecossistemas florestais densos e resilientes.
O princípio fundamental do método Miyawaki é utilizar espécies que existiriam de forma natural na área a ser florestada e que depois “trabalham” em conjunto para criar um ecossistema florestal resistente e próspero. O conceito nasceu nos anos 70 do século passado, quando Akira Miyawaki, botânico e ecologista japonês, rumou à Alemanha para estudar fitossociologia – análise da forma como as diferentes espécies de plantas interagem dentro das comunidades vegetais. Descobriu o conceito de “vegetação natural potencial” – a que existiria num determinado local se não houvesse intervenção humana – e, ao regressar ao Japão, decidiu aplicar esses princípios, criando um método que, pela sua eficácia e rapidez de resultados, tem sido usado para restaurar e plantar florestas em todo o mundo.
Akira Miyawaki introduziu uma estratificação na estrutura da floresta, combinando espécies de herbáceas, arbustos e árvores. Além disso, preconizou uma série de etapas cruciais: uma análise do solo, para identificar os nutrientes necessários ao bom crescimento das plantas; a recolha de sementes no local, seguida de germinação e plantação em densidades elevadas; e a recriação de uma cobertura do solo que simule a proteção natural feita pelas folhas. Nos dois primeiros anos, a plantação deve ser regada regularmente e “limpa” de ervas daninhas.
Os primeiros resultados dos testes de campo feitos por Miyawaki foram claros: este método iria acelerar bastante – até dez vezes mais rápido – o crescimento da floresta. Uma comunidade florestal estável, de múltiplas camadas, pode ser conseguida num período de 20 a 30 anos, ao invés da habitual média de 150 a 200 anos.
A utilização de várias espécies diferentes, em densidades elevadas e numa estrutura estratificada em diferentes níveis, cria habitats mais complexos, com maior biodiversidade e que fixam mais carbono que outras áreas.
Um bom método também para florestas urbanas
O método Miyawaki tem sido usado em zonas urbanas, com inúmeras vantagens. Desde logo, as florestas urbanas reduzem as temperaturas em aproximadamente 1,3 graus centígrados, melhoram a qualidade do ar (ao reduzir a poluição) e ainda absorvem CO2, melhorando a qualidade de vida e promovendo o bem-estar das pessoas. Além disso, criam uma espécie de oásis natural para invertebrados e aves.
A técnica já foi aplicada em centenas de pequenas florestas urbanas em inúmeros países, incluindo Portugal. O projeto FCULresta, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, usou os princípios de Akira Miyawaki para fazer nascer uma minifloresta densa, biodiversa e multifuncional, junto ao edifício da faculdade, em pleno centro de Lisboa.
Pela sua relevância, o trabalho desenvolvido pelo botânico japonês, que faleceu em 2021, mereceu, em 2006, o Blue Planet Prize – equivalente ao prémio Nobel na ecologia.