Floresta: entre as “ideias feitas” e o conhecimento

9 de Outubro 2025

O que sabem os portugueses sobre as florestas plantadas de eucalipto? E quanto desse “saber” corresponde a convicções sem fundamento científico? Um estudo realizado pelo ISCTE procurou respostas e traçou uma imagem que reflete mais preconceitos do que conhecimento.

O estudo “Para além das perceções sobre a floresta e o eucalipto” realizado pelo Marketing Future Cast Lab, do ISCTE, procurou identificar as convicções dos portugueses sobre a floresta, sobretudo as áreas de eucalipto, ouvindo, para isso, mais de 600 pessoas. Quase um terço dos participantes (31,8%) são proprietários de terrenos florestais ou têm familiares que o são – um valor que expressa uma forte relação dos portugueses com a floresta. Dentro deste grupo, mais de metade (54%) têm áreas de eucalipto. No entanto, em muitas das questões abordadas, a proximidade com a floresta não se traduz em conhecimento.

Benefícios ambientais não são reconhecidos

O papel do eucalipto na fixação de dióxido de carbono é um aspeto que está longe de ser percebido pela generalidade da opinião pública. A afirmação “O eucalipto é uma das árvores que capta mais dióxido de carbono e liberta mais oxigénio por área plantada” revelou-se estranha para muitos: 46% dos inquiridos “não sabem/não respondem”.

De igual forma, a contribuição do eucalipto para combater a erosão de solos também provou ser desconhecida: 41,6% dos inquiridos concordou com a crença de que esta espécie provoca o esgotamento dos solos, por consumir mais nutrientes, enquanto 34,1% “não sabem/não respondem”.

Já no que toca ao impacto das florestas plantadas de eucalipto na gestão do recurso “água”, metade dos inquiridos (49,5%) acredita que esta espécie florestal consome mais água do que as outras, ignorando a sua eficiência e a sua contribuição para combater os desequilíbrios hídricos.

A importância do eucalipto na economia nacional

Existem aspetos económicos positivos associados, de forma expressiva, à floresta plantada de eucalipto: a fileira gera milhares de postos de trabalho (só 4% dos participantes discordam desta afirmação); e o eucalipto melhora o interior do país (só 19% discordam).

Mas, por outro lado, também foi identificado um grande desconhecimento sobre a importância do eucalipto na transição para modelos de desenvolvimento mais sustentáveis. Perante a afirmação “O eucalipto português apresenta excelentes propriedades para a produção
dos produtos substitutos de outros que são derivados do petróleo”, 45,4% dos inquiridos “não sabem/não respondem”.

De igual forma, apesar de ser reconhecida a importância desta espécie florestal para a indústria e para a economia nacionais, não existe, para a maior parte dos participantes no estudo, a consciência da necessidade crescente de importação de madeira de eucalipto. Apenas 27% têm conhecimento desta necessidade. Destes, 51% são favoráveis à ideia
de aumentar a área de floresta plantada de eucalipto.

Floresta sem gestão é associada a maiores riscos

A maior parte dos inquiridos (72,3%) concorda com a ideia de que a gestão florestal é benéfica, independentemente da espécie plantada. E a convicção de que há demasiadas áreas florestais abandonadas está também muito presente nas respostas: 69% consideram que a maioria da floresta em Portugal está abandonada e só 5% defendem que a maior parte das áreas florestais estão bem geridas.

A questão da relação entre gestão florestal e incêndios reúne consenso: a maioria dos participantes (75,8%) concorda com a ideia de que “As florestas bem geridas têm menos risco de incêndio”.

Amplo acordo com a necessidade de mais floresta

Os inquiridos no estudo mostraram-se favoráveis à adoção, em Portugal, de um “pacto de regime” ou “acordo de longo prazo” entre as principais forças políticas, para o desenvolvimento de uma política florestal que não limite a plantação de nenhuma espécie: 61% concordaram que essa medida é necessária, ou seria útil, desde que as regras ambientais e de uso do solo em vigor sejam respeitadas e essas plantações bem geridas.

A adesão à ideia de uma política de crescimento da área florestal no território nacional, que compatibilize espécies de produção com as que têm valor de conservação, é igualmente expressiva: 66,2% dos respondentes são favoráveis a mais floresta, enquanto apenas 6,8% se revelam contrários a essa hipótese.

O estudo

O estudo “Para além das perceções sobre a floresta e o eucalipto” foi realizado entre janeiro e março de 2024, no âmbito do Fórum do Eucalipto, promovido pela The Navigator Company. Envolveu 604 participantes – uma amostra representativa, constituída por quotas, nas variáveis género, idade, região e grau de instrução, de acordo com a distribuição da população portuguesa no território continental.

72,3% dos portugueses concordam que a gestão florestal é benéfica, independentemente da espécie plantada. E 75,8% reconhecem que as florestas bem geridas têm menos risco de incêndio