Florestas urbanas

19 de Janeiro 2023

Os espaços verdes ajudam a criar cidades mais resilientes e sustentáveis. Absorvem dióxido de carbono, reduzem o ruído, a temperatura e a poluição, protegem a biodiversidade e evitam a erosão dos solos. Missões cada vez mais prementes.

A ideia começou a ser pensada no século XIX, mas só em 1934 um decreto-lei impulsionou o projeto de florestação da serra do Monsanto, em Lisboa, que seria dinamizado por Duarte Pacheco: entre Alcântara, Belém, Ajuda e Benfica, foram plantadas vastas áreas com 43 espécies especialmente escolhidas. Desde então, o “pulmão” da capital passou de 600 para 1.045 hectares, com mais de 250 mil árvores, 103 espécies de aves e 157 espécies de cogumelos, para além de um parque ecológico, miradouros, trilhos e espaços de lazer.

A construção deste imenso parque (hoje, um dos maiores da Europa) numa serra pedregosa é a prova bem viva de uma floresta em plena cidade. E um exemplo de que, bem usados e geridos – em 2016, foi o primeiro parque florestal urbano da Europa a ser certificado pela sua gestão sustentável –, estes espaços podem trazer uma multitude de vantagens para quem vive nas cidades.

Parque da Cidade, Porto.

Benefícios das florestas e parques

A urbanização contínua e a crescente prosperidade vão combinar-se para aumentar o tamanho e a densidade das cidades (segundo a ONU, atualmente 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050), ao mesmo tempo que os efeitos das mudanças climáticas se fazem sentir: as ondas de calor são mais frequentes, o nível do mar está a subir, as alterações nos padrões de precipitação aumentam o risco de inundações costeiras e sobrecarregam os sistemas urbanos de águas pluviais… Ameaças que pressionam a comunidade urbana a encontrar soluções inovadoras para construir cidades habitáveis e “limpas”. E uma dessas soluções passa, inevitavelmente, pela plantação de espaços verdes.

As florestas plantadas absorvem e armazenam carbono, contribuem para o combate à desflorestação e a manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas, e permitem a manutenção da disponibilidade de água e nutrientes do solo. Além disso, as árvores podem combater as ilhas de calor urbano, reduzir a necessidade do uso de ar condicionado se forem colocadas de forma correta em volta dos edifícios, ou, em climas frios, proteger as casas do vento e economizar a energia usada para aquecimento.

Não há tempo a perder

Vantagens que têm vindo a ser reconhecidas e cada vez mais valorizadas. Em 2018, no primeiro Fórum Mundial sobre Florestas Urbanas, a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, defendia que as florestas e espaços verdes podem ajudar a criar cidades mais resilientes e sustentáveis e a enfrentar os desafios de uma crescente população urbana. Hiroto Mitsugi, diretor-geral adjunto do Departamento Florestal da FAO, sublinhou na altura que “modelos mais sustentáveis ​​de crescimento urbano são necessários urgentemente”, defendendo que “as cidades que já existem e as futuras devem projetar espaços verdes e florestas urbanas para responder às diferentes necessidades”.

Combater os efeitos da desflorestação plantando mais floresta

O rumo parece traçado e os números são encorajadores. Enquanto as florestas continuam a desaparecer, a plantação de novas florestas foi crescendo, reduzindo o ritmo de perda de área total florestal: de 7,8 milhões de hectares por ano na década de 1990 para 4,7 milhões anuais na década 2010–2020, segundo o relatório The State of The World’s Forest 2022, da FAO. Globalmente, a floresta plantada cobre cerca de 294 milhões de hectares, representando 7% do total de área florestal mundial, tendo crescido a um ritmo de 1% por ano entre 2015 e 2020.

Plantações fazem crescer a floresta portuguesa

Portugal tem 36% do território ocupado por floresta. Foi no final do séc. XIX, com a criação das bases dos Serviços Florestais, que se deu início à reflorestação de áreas incultas – até então, estima-se que a floresta nacional não ocupasse mais do que 7% do território. Hoje, sabemos que sem as florestas plantadas a área florestal nacional seria significativamente menor. A floresta nativa corresponde a menos de 1% do total da floresta portuguesa, enquanto a chamada seminatural (composta por espécies nativas e introduzidas, que se regeneram naturalmente ou por plantação) é largamente dominante, com 78,4%, e as plantações florestais respondem por 21%.

Em 2020, em Portugal, as empresas do setor da pasta e papel plantaram 6.287 hectares de floresta, assegurando a gestão sustentável e certificada de quase 192 mil hectares, correspondente a 5% da floresta nacional. (Dados Biond – Forest fibers from Portugal)