Folhas de outono: a ciência das cores

19 de Outubro 2022

No outono, o verde das folhas dá lugar a tons de amarelo, laranja e vermelho. Por detrás da beleza, estão fenómenos naturais complexos, que mostram como as árvores são seres eficientes e evoluídos.

O espetáculo é belo e a natureza não cobra bilhete. Todos os anos, no outono, as árvores de folha caduca, também chamadas caducifólias, passam por uma transformação que muda o tom da paisagem dos bosques e das florestas. Há duas ordens de explicações para esta mudança: a primeira prende-se com a razão pela qual deixam de ser verdes. A segunda revela porque adotam os tons de amarelo, laranja e vermelho e não outros.

Porque deixam de ser verdes?

Comecemos pelo início do processo. A cor verde que as folhas das árvores têm desde que nasceram no início da primavera, uns meses antes, vem da clorofila. Trata-se de um componente muito importante no mundo vegetal, que as plantas produzem por ação da luz solar.

O que acontece no outono é que os dias começam a ser mais curtos e menos quentes. À medida que o tempo de luz solar vai reduzindo, a produção de clorofila também diminui. E dá espaço para aparecerem as cores de outros pigmentos. Uns que sempre existiram nas folhas, mas que estavam “escondidos” devido à abundância de clorofila. Outros que passam a ser produzidos neste período.

Assim, o “gatilho” que faz disparar a mudança das cores das árvores de folha caduca é a diminuição da intensidade e do tempo diário de luz do sol, numa época em que elas se preparam para uma espécie de hibernação. Depois da mudança de cor, as folhas acabam por cair, com o objetivo de poupar a energia que a sua manutenção exige.

De onde vêm o amarelo e o laranja?

É a presença de carotenoides que traz às árvores o tom amarelo no outono. Estas substâncias existem nas folhas durante todo o seu ciclo de vida, ajudando a planta na absorção da luz solar, indispensável à fotossíntese. Mas é só quando a produção da clorofila abranda que o tom amarelo pode sobressair em toda a sua intensidade. Dentro dos carotenoides existem algumas substâncias, como o betacaroteno, que dão a certas espécies tons mais alaranjados.

Entre as árvores caducifólias que exibem tons amarelos mais exuberantes no outono contam-se o ginko (Ginkgo biloba), os castanheiros (Castanea sativa), o plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus) e as bétulas (Betula sp.).

De onde vêm os tons vermelhos?

As folhas de algumas espécies de árvores produzem substâncias que resultam nas cores que vão dos vermelhos vivos aos tons bordeaux e arroxeados. Essas substâncias chamam-se antocianinas e são as mesmas que estão presentes, por exemplo, nas uvas pretas, nas cerejas e nos chamados “frutos vermelhos”.

As antocianinas são produzidas pela síntese dos açúcares existentes na planta. Ao contrário do que acontece com a clorofila e com os carotenoides, nem todas as plantas produzem antocianinas. E entre aquelas que têm essa capacidade, nem todas o fazem durante o ano inteiro. Nas espécies em que as antocianinas são produzidas especificamente neste período do outono, elas são responsáveis pela fixação na planta dos últimos nutrientes, antes da queda da folha.

É o que acontece com a faia-de-folhas-púrpuras (Fagus sylvatica L.’Purpurea’), com o carvalho americano (Quercus rubra) e com o ácer vermelho (Acer rubrum).

O “gatilho” que faz disparar a mudança das cores das folhas das árvores caducifólias é a diminuição da intensidade e do tempo diário de luz do sol.