Gestão florestal ativa: estratégias que protegem o solo

30 de Julho 2025

Uma vez que os povoamentos de eucalipto ocupam, por norma, terrenos pouco férteis e sem aptidão agrícola, uma gestão florestal com boas práticas de plantação e manutenção permite aumentar a fertilidade do solo e evitar a sua erosão.

Florestas plantadas bem geridas, que sejam compatíveis com as condições do terreno e do clima, podem exercer um papel semelhante ao das florestas naturais na proteção do solo. Este é um facto comprovado pela ciência. O eucaliptal não é exceção: as plantações desta espécie apresentam, inclusive, menor risco de erosão e degradação física do solo, quando comparadas com outros tipos de cobertura vegetal e de uso da terra, sendo as necessidades nutricionais anuais do eucalipto significativamente menores do que, por exemplo, as das culturas agrícolas.

Como, em Portugal, boa parte dos solos tem restrições naturais para a utilização agrícola – como o relevo acidentado, a pequena profundidade efetiva do solo para as raízes, a pedregosidade elevada e a baixa fertilidade natural –, estes assumem apetência para a produção florestal. Nestas áreas de solo pobre, os povoamentos florestais geridos de forma responsável não só evitam o abandono como asseguram as funções produtivas e ecológicas que as árvores desempenham nos ecossistemas, promovendo uma gestão adequada da qualidade do solo.

Gestão à medida

Embora, regra geral, as florestas naturais ou com ciclos de exploração mais longos protejam mais o solo contra processos de degradação, as florestas plantadas com ciclos mais curtos, como é o caso dos eucaliptais, podem exercer um papel semelhante. E, de acordo com a ciência – citando estudos de 1996, 2000 e 2015 –, os efeitos das florestas de produção sobre o escoamento superficial da água, que influencia a erosão, dependem mais das condições de clima, da quantidade, distribuição e intensidade da chuva, da topografia, da preparação do terreno e da existência de coberto vegetal, do que da espécie plantada.

Na base de tudo está, relembramos, a importância de as práticas de gestão utilizadas serem compatíveis com o solo e o clima em questão. Depois, no caso do eucalipto, existem ainda benefícios que advêm da possibilidade de manter povoamentos em regime de talhadia, deixando um a dois rebentos por pé, após o corte das árvores, por três rotações (ciclos de crescimento). Este método permite evitar, durante mais de 30 anos, a necessidade de remexer o terreno para fazer uma nova plantação.

Este método tradicional, que evita intervenções profundas ao nível do solo, contribui para processos ecológicos importantes. Por um lado, reduz a exposição direta do solo a gotas de chuva que provocam a sua desagregação (a primeira etapa do processo de erosão), e aos raios solares, que podem elevar a temperatura do solo, com consequente aumento da evaporação, principalmente nos períodos mais quentes. Diminui também os riscos de erosão, através da proteção física que é conferida ao solo pela biomassa florestal residual que permanece no terreno (como as folhas e as raízes desenvolvidas nas rotações anteriores), e que também aumenta o nível de matéria orgânica no solo. Por fim, este tipo de exploração florestal melhora a eficiência de controlo da vegetação espontânea e, ao mesmo tempo, contribui para uma maior diversidade de espécies de plantas e animais sob as árvores.

Fertilidade e não só

Apesar da elevada eficiência de uso de nutrientes por parte do eucalipto, uma vez que os terrenos utilizados para as plantações da espécie em Portugal têm, por norma, uma fertilidade natural baixa e são ácidos, adicionar ao solo materiais como o calcário, que neutraliza a acidez, e realizar uma adubação mineral no momento da plantação e até aos quatro primeiros anos de crescimento das árvores, são boas práticas, relevantes para potenciar a qualidade do solo.

Ao mesmo tempo, estando as folhas entre a biomassa com maior conteúdo de nutrientes, os sobrantes do corte das árvores, bem como as raízes que permanecem no terreno após a exploração, favorecem a riqueza e dinâmica dos micro-organismos do solo, essenciais para a decomposição da matéria orgânica e reciclagem de nutrientes.

Um estudo publicado recentemente revela que o stock de carbono na camada superficial do solo (até os 30 cm de profundidade), em povoamentos nacionais de eucalipto, pode representar em alguns casos mais de dois terços do total existente da plantação. Os teores mais elevados ocorrem nas regiões de maior produtividade florestal, o que revela um contributo relevante das plantações de eucalipto mais prolíficas para o armazenamento de carbono no solo, reforçando o papel fundamental da espécie para a mitigação das alterações climáticas.

As florestas plantadas bem geridas podem exercer um papel semelhante ao das florestas naturais na proteção do solo. A gestão florestal deve privilegiar práticas que aumentem a quantidade de matéria orgânica do solo, promovendo maiores níveis de sequestro de CO₂.