Planeamento territorial e gestão sustentável das florestas plantadas

10 de Julho 2025

Maria José Roxo, professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa e investigadora, reflete sobre a necessidade de promover uma gestão sustentável das plantações de eucalipto, defendendo a criação de instrumentos legais eficazes para a gestão florestal e para o ordenamento do território.

Retrato de Maria José Roxo, especialista em gestão sustentável de florestas em Portugal

As plantações de eucalipto desempenham hoje um papel relevante no contexto económico nacional, contribuindo para a produção de pasta para papel e outros produtos, como o mel, o óleo e os novos bioprodutos. No entanto, estas plantações têm sido objeto de perceções diversas, especialmente entre populações urbanas, associando-o frequentemente a questões como os incêndios florestais, o esgotamento dos solos, o consumo de águas subterrâneas e a degradação da paisagem, muitas vezes em cenários de abandono ou de reduzida gestão territorial.

Num país com características geográficas tão diversas, tanto de norte a sul como do litoral ao interior, é essencial que a ocupação e o uso do solo sejam planeados em conformidade com essas especificidades. Nesse contexto, é mais adequado direcionar as plantações de eucalipto para solos considerados pobres ou marginais, evitando utilizar os que têm maior potencial agrícola e a florestação de vastas áreas contínuas.

O eucalipto é uma espécie que se adaptou bem ao clima mediterrâneo, resistindo a fenómenos climáticos extremos, como as secas, e à pobreza dos solos, destacando-se pela sua eficiência no uso da água, o que favorece o seu rápido crescimento. No entanto, para reduzir os potenciais impactos ambientais, é fundamental considerar cuidadosamente as práticas para a sua plantação e assegurar uma gestão adequada das plantações. Neste sentido, é essencial adotar práticas de gestão sustentáveis, que visem proporcionar serviços ecossistémicos, bem como promover a proteção, a resiliência e a produtividade, com base em medidas que ajudem a equilibrar a utilização dos recursos naturais com a conservação ambiental.

Apesar dos avanços científicos, tanto ao nível da identificação das espécies mais adequadas às condições edafoclimáticas do país, como no que diz respeito ao desenvolvimento de novos bioprodutos derivados do eucalipto, ainda há um longo caminho a percorrer em relação à criação de instrumentos legais eficazes para a gestão florestal e para o ordenamento do território. Estes instrumentos devem ser capazes de tornar os territórios mais dinâmicos e resilientes, face à mudança climática. As políticas de gestão florestal no futuro, devem ser pensadas a diferentes escalas, considerando as especificidades regionais, por isso, a sua formulação e aplicação deve basear-se em experiências de sucesso, reduzindo os entraves burocráticos que dificultam uma implementação eficaz. Para alcançar estes objetivos, é fundamental investir na educação, envolvendo os diversos níveis de ensino, e melhorar a comunicação com a sociedade, promovendo maior consciencialização e envolvimento público na gestão sustentável das florestas.

O Fórum do Eucalipto veio possibilitar esse diálogo entre todos os intervenientes interessados na floresta plantada de eucalipto: a academia, as organizações ambientalistas, as associações de produtores, a indústria, os decisores políticos e a sociedade civil, através de workshops participativos que permitiram uma reflexão e uma discussão livre de preconceitos sobre o eucalipto, focada na floresta que temos e naquela que ambicionamos ter no futuro.

Para mim, a participação nesta iniciativa foi muito enriquecedora, permitindo-me partilhar ideias e adquirir conhecimento sobre o que de melhor se está a fazer em termos de soluções para minimizar os impactos ambientais (solo, água e biodiversidade), bem como conhecer os avanços na criação de novos bioprodutos, entre outros aspetos. Pertencer ao Conselho Científico deste Fórum foi um enorme desafio, mas muito gratificante, pela generosidade de todos os que dele fizeram parte.

Maria José Roxo, Professora Catedrática da Universidade Nova de Lisboa e Investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais CICS.NOVA, Membro do Conselho Científico do Fórum do Eucalipto

O eucalipto é uma espécie que se adaptou bem ao clima mediterrâneo, resistindo a fenómenos climáticos extremos, como as secas, e à pobreza dos solos, destacando-se pela sua eficiência no uso da água.