A canção dos GNR falava em catos e hortelãs, mas é mais comum vermos as dunas costeiras salpicadas de pinheiros, urzes, tojos, carrascos, zimbros e camarinhas. Conheça melhor estes habitats, que fazem parte da Rede Natura 2000 em Portugal.
Criada pela União Europeia nos anos 90, a Rede Natura 2000 identifica as principais áreas de conservação de habitats e espécies raras, ameaçadas ou vulneráveis nos Estados-Membro. Cada país tem o dever de vigiar e cuidar da conservação destas áreas e entregar relatórios de progresso a cada seis anos.
Ao abrigo desta Rede, foram definidos em Portugal Continental 88 tipos de habitats naturais de interesse comunitário, inseridos em nove grandes grupos: florestas, áreas costeiras, dunas, zonas de água doce, charnecas e matos de zonas temperadas, matos esclerófilos, formações herbáceas, turfeiras e pântanos. (Se tiver interesse, pode saber mais sobre estes grupos no site do ICNF, aqui.) Todos estes grupos incluem habitats particularmente vulneráveis em Portugal, cuja conservação é considerada prioritária.
Nas florestas geridas pela The Navigator Company, existem 4100 hectares classificados como habitats protegidos pela Rede Natura 2000. Um enquadramento que salvaguarda os valores naturais que existam nestas áreas (de espécies de fauna e flora, e habitats), impondo regras que são aplicadas à gestão florestal.
Mas não é de floresta que lhe queremos falar hoje. Ou, pelo menos, não da floresta “tradicional”. Inspirados pelo verão, escolhemos para lhe apresentar neste artigo as dunas com florestas de pinheiro-manso (Pinus pinea) ou pinheiro-bravo (Pinus pinaster), subespécie atlantica.
Obra de engenharia
São habitats seminaturais (plantados) na região mediterrânica, a sul da Barrinha de Esmoriz, com pinhais adultos que têm como origem arborizações (com idade superior a 80 anos) ou regeneração natural (com idade superior a 30 anos), com vegetação igualmente adulta e desenvolvida, sem perturbações recentes. Encontramo-los nas dunas litorais de Esmoriz até Vila Real de Santo António.
As florestas nas dunas litorais são consideradas uma das obras mais notáveis da engenharia florestal portuguesa, criadas para tentar resolver o problema dos extensos desertos de areias móveis das costas marítimas nacionais, que obstruíam as barras de muitos rios e causavam prejuízos na agricultura e na economia das populações à beira-mar.
Entre o início do século XIX e o início do século XX, procedeu-se à arborização sistemática destes ecossistemas, com objetivos sobretudo de proteção, mas também de produção e lazer. Estas intervenções permitiram aumentar a área arborizada de dunas de 2900 hectares em 1896 para 23 350 hectares 40 anos depois, em 1936.
Hoje, as principais ameaças a estes habitats são a desmatação e as espécies invasoras, nomeadamente as acácias, que levam ao desaparecimento da vegetação arbustiva espontânea que os caracteriza.
Aproveite os dias de praia que ainda restam para olhar com outros olhos para as dunas e a floresta de pinhal que nelas habitam.