Há vida nas dunas

27 de Agosto 2024

Os habitats dunares são muito mais do que areia. Este ecossistema de defesa das zonas costeiras é constituído por uma enorme biodiversidade, que proporciona uma paisagem única e frágil. Uma beleza a não pisar.

As dunas são áreas arenosas que protegem o território do avanço das marés. Quem vai à praia e já viu a sua toalha, ou a sua bola de Berlim, coberta de areia, sabe bem que este solo se movimenta com facilidade. Mas talvez não saiba como resistem os ecossistemas dunares à agressão constante da água e do vento – a resposta da natureza está na enorme biodiversidade destes habitats.

A flora que se encontra nas dunas é a grande responsável por fixar a areia. As chamadas dunas primárias (ou móveis) são marcadas pela presença de plantas herbáceas com raízes longas e folhas e caules suculentos, adaptadas a este ambiente. Elas têm características que lhes permitem resistir à elevada salinidade, às grandes amplitudes térmicas, aos ventos fortes, ao excesso de luz e à pouca disponibilidade de água doce. Mas, apesar de resistentes a estas condições, são plantas muito sensíveis à presença humana. Porque partem com facilidade, quando pisadas, o tráfego de pessoas e veículos acaba por ser o principal responsável pelos danos provocados nas zonas dunares. Por isso, a melhor forma de as protegermos é evitá-las.

Espécies que gostam de areia

Em Portugal, na faixa mais próxima do mar, uma espécie dominante na fixação da areia é o estorno (Ammophila arenaria subsp. arundinacea), mas existem outras, como a morganheira-da-praia (Euphorbia paralias), o cordeirinho-da-praia (Otanthus maritimus) e a granza-marítima (Crucianella maritima).

A vegetação torna-se mais abundante e diversificada nas zonas interdunares, que apresentam depressões abrigadas do vento e onde pode haver maior acumulação de água e de matéria orgânica. É uma área de pequenos arbustos – como o tomilho-das-praias (Thymus carnosus) e a madorneira (Artemisia campestris subsp. maritima) –, antes de chegarmos às dunas secundárias ou arborizadas. Nestas, subsistem sobretudo pinheiros-bravos (Pinus pinaster) e mansos (Pinus pinea), muitas vezes plantados com o objetivo de acrescentar mais uma barreira de proteção para as localidades e campos agrícolas. Ao seu lado (ou melhor, sob as suas copas) encontram-se muitas outras espécies espontâneas características de solos arenosos. É o caso da aroeira (Pistacia lentiscus), da camarinha (Corema album), da sabina-da-praia (Juniperus turbinata), do samouco (Myrica faya), ou do lentisco (Phillyrea angustifolia).

Insetos, répteis, aves e até mamíferos

A vegetação que cobre as areias serve também de refúgio para vários animais. Junto ao mar, há libélulas, borboletas, grilos, gafanhotos, besouros, escaravelhos, aracnídeos e, por vezes, anfíbios e répteis. E nas dunas secundárias surgem mesmo pequenos mamíferos como o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) ou o musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula).

Mas é, sem dúvida, a diversidade de aves que mais se destaca nestes ecossistemas. O ganso-patola (Morus bassanus) e o corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalocrocorax carbo) procuram estes habitats, em Portugal, para passar o inverno, enquanto a calhandrinha (Calandrella brachydactyla) e a andorinha-do-mar-comum (Sterna hirundo) são visíveis no verão. O borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), a chilreta (Sternula albifrons) e a cotovia-de-poupa (Galerida cristata) preferem as dunas primárias, enquanto a zona de mata atrai o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), chapins (Parus major) e até aves de rapina como o açor (Accipiter gentillis) e o gavião (Accipiter nisus).

Várias destas espécies e alguns dos seus habitats merecem medidas de proteção em Portugal, como acontece na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, ou na Reserva Botânica das Dunas de Troia. Em fevereiro deste ano, a União Europeia anunciou o financiamento do Iberalex, projeto destinado à conservação do borrelho-de-coleira-interrompida, por considerar a espécie – que está em declínio na Galiza e em Portugal – fundamental para os ecossistemas costeiros.

Ecossistemas dunares protegidos pela Navigator

A The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, está empenhada na conservação e melhoria de cinco tipos de habitats dunares de interesse comunitário, identificados na sua propriedade Monte Feio, na zona de Sines. Na área, estão identificadas 69 espécies de plantas, 14 das quais com estatuto de proteção, e 18 espécies de aves, protegidas por tratados internacionais – como as convenções de Berna, Bona ou CITES, e a Diretiva Habitats. A lista de flora presente inclui o espargo-bravo (Asparagus aphyllus), o aderno-bravo (Rhamnus alaternus), a sargaça (Halimium halimifolium) e a estreleta (Sesamoides purpurascens). O gavião-da-europa (Accipiter nisus), a gralha-preta (Corvus corone) e o picapau-malhado-grande (Dendrocopos major) merecem destaque ao nível da fauna. As medidas de proteção implementadas pela Navigator incluem evitar atividades de mobilização do solo, realizando com meios moto-manuais o controlo seletivo de vegetação, para defesa da floresta contra incêndios.

A flora que se encontra nas dunas é a grande responsável por fixar a areia e serve de refúgio para inúmeros animais.