Houston, temos um problema

11 de Abril 2023

A exploração espacial levanta um problema importante, mas pouco falado: estamos a transformar a órbita baixa da Terra numa lixeira. 

Geramos, globalmente, 2,01 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano. E já fizemos entrar nos oceanos mais de 170 biliões de partículas de plástico. Depois da terra e do mar, estamos agora a encher de lixo também o espaço – não o vemos quando olhamos para o céu, mas ele está lá, mais longe do que o olho humano alcança.

A NASA apelida a zona conhecida como órbita baixa da Terra (LEO – Low Earth Orbit) de “ferro-velho espacial orbital”, explicando que “a maioria dos detritos aí presentes compreende objetos criados pelo homem”. Incluem satélites abandonados ou partidos, partes de foguetões e outros equipamentos, e itens como porcas, parafusos ou lascas de tinta, que foram sendo deixados na órbita terrestre durante décadas.

Por um lado, não há leis espaciais internacionais para limpar detritos na LEO, e, por outro, essa remoção é cara, considerando, nomeadamente, a dimensão do problema: de acordo com a NASA, existem cerca de 6.000 toneladas de materiais na órbita baixa da Terra. E, segundo a Agência Espacial Europeia, em 2022 foram registados mais de 30 mil objetos de detritos espaciais em órbita terrestre maiores de 10 cm; 1 milhão de objetos com entre 1 e 10 cm; e 130 milhões maiores que 1 mm e menores que 1 cm.

E a tendência não é para melhorar. “A indústria espacial global está a crescer rapidamente – espera-se que o número de satélites em órbita aumente de 9.000 hoje para mais de 60.000 até 2030. Adicionalmente, estima-se que existam já mais de 100 biliões de peças não rastreadas de satélites antigos a circular o planeta”, refere uma comunicação recente de um grupo de cientistas no jornal Science, que pede um tratado juridicamente vinculativo para garantir que a órbita da Terra não seja irreparavelmente prejudicada.

 

Lixo no espaço, perigo na Terra

“A maior parte do lixo espacial está a mover-se muito depressa, podendo atingir velocidades de 18.000 milhas por hora [nr: cerca de 29.000 km/h], quase sete vezes mais rápido que uma bala. Devido ao ritmo de velocidade e ao volume de detritos na LEO, os serviços, explorações e operações espaciais atuais e futuras representam um risco de segurança para pessoas e propriedades, tanto no espaço como na Terra”, alerta a NASA.

Por um lado, está o risco de colisão destes objetos ou fragmentos com satélites ativos, naves e astronautas em órbita. Por outro, o aumento do número de objetos em órbita dificulta a deteção de eventuais asteroides ou destroços que possam cair na superfície terrestre, representando um perigo para a vida no planeta.

A quantidade de detritos à deriva no espaço está também a torná-lo cada vez menos navegável. Caso não sejam tomadas medidas adequadas, isto pode traduzir-se na impossibilidade de utilização do espaço para garantir serviços tão importantes como comunicações, navegação, gestão de tráfego aéreo ou previsão meteorológica. Os satélites, que desde o Sputnik, em 1957, têm sido lançados para o espaço aos milhares, são também fundamentais para estudar as alterações climáticas e obter respostas para as mais diversas questões científicas.

As estratégias adotadas pela comunidade espacial para reduzir a quantidade de lixo e mitigar os riscos associados passam pela realização de missões de limpeza, que consistem em capturar e remover detritos da órbita terrestre, e pela adoção de práticas mais sustentáveis na construção e operação de satélites e naves espaciais.

Cuidar do planeta é um imperativo que também se estende à órbita terrestre.