Ideias jovens para um planeta saudável

24 de Fevereiro 2023

Com o impacto das alterações climáticas, cresceu também uma geração de ecoempreendedores – jovens que estão a fazer mudanças concretas em prol de um planeta melhor.

Os mais jovens colocam a defesa do planeta entre as suas principais preocupações e estão empenhados em demonstrá-lo através de ações.

Atenta e preocupada, uma nova geração de ecoempreendedores há muito que está a dar mostras do seu ativismo, com ações reais e concretas. Uma prova de que o futuro da natureza passa, obrigatoriamente, pelos jovens protagonistas. Portugal não é exceção. Conheça três exemplos.

Uma alga que limpa a água doce

Uma microalga consegue restaurar as características da água doce, permitindo o seu consumo e a regeneração do ecossistema. A técnica chama-se “biorremediação” e foi aplicada com sucesso nas águas da Lagoa da Ervedeira, perto de Leiria.

Mariana Silva e Matilde Tarenta conheceram-se há três anos na Escola Secundária Engº Acácio Calazans Duarte, na Marinha Grande. Em 2021 ganharam o 2º Prémio do Concurso Nacional de Jovens Cientistas e a representação de Portugal na Regeneron, a maior Feira de Ciência e Engenharia do mundo, em Atlanta, com o seu Phytoproject. Trata-se de um projeto que demonstra a eficácia de uma técnica de remoção de nutrientes com base na utilização de uma microalga – a Chlorella vulgaris – em amostras de água poluída.

Mariana explica: “Um dos maiores problemas que a água doce enfrenta é a eutrofização, isto é, o excesso de nutrientes, provenientes de, por exemplo, descargas de resíduos agrícolas, o que potencia o crescimento algal, tornando-a imprópria para consumo e causando a morte dos organismos autóctones”. Ora, prossegue, “as algas são ricas em mecanismos que permitem a remoção de nutrientes de forma eficiente e sustentável”, pelo que o Phytoproject “propõe-se a eliminar um elevado teor de nutrientes (principalmente fósforo e azoto – principais agentes causadores da eutrofização), através da microalga Chlorella vulgaris imobilizada em alginato de cálcio”. Promove-se, assim, a restauração das características da água e a regeneração dos ecossistemas na Lagoa da Ervedeira, “um corpo de água de grande importância para o país”.

Os ensaios in vitro foram “um sucesso”, tendo-se registado “altas percentagens de remoção”, revela, orgulhosa, Mariana Silva, garantindo que o projeto “abre um novo caminho na limpeza de água doce pelo mundo fora”.

Gamificar a reciclagem

Trash4Goods é uma plataforma de reciclagem na qual os utilizadores são recompensados. Uma forma didática de reciclar e um contributo para diminuir o lixo proveniente do excesso de produtos descartáveis, incluindo lixo eletrónico.

Afonso Ravasco, Tiago Lourinho, João Trindade e Pedro Esteves foram os mentores da ideia, que quando eram estudantes no Instituto Superior Técnico (IST), mais exatamente dentro da JUNITEC – Júnior Empresas do IST, que estabelece a ponte entre a comunidade estudantil e o mundo empresarial. Repararam que “as taxas de reciclagem em Portugal eram muito baixas”, conta Afonso Ravasco, cofundador da empresa (dos quatro, hoje só ele e Tiago – ambos na foto – se mantêm à frente da Trash4Goods).

A primeira “prova de conceito” do Trash4Goods, vencedor do prémio e-Waste Open Innovation de 2021, foi realizada no IST, onde construíram uma “reverse vending machine” de raiz, para recolher latas e garrafas PET. Entretanto, realizaram recolhas de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE ou e-waste) noutras faculdades de Lisboa. E fizeram uma recolha piloto em quatro lojas Worten na região de Lisboa, com foco no e-waste, que premiou os utilizadores que entregaram mais resíduos elétricos e eletrónicos com iPhone, airpods e cartões Worten.

Afonso Ravasco acredita que “através de elementos como a gamificação e a sensibilização dos jovens para a valorização dos resíduos se aumente cada vez mais o sentido de responsabilidade na comunidade”, e está convicto de que este tipo de iniciativa pode desbloquear novas soluções e novos modelos de negócio. “O futuro depende de todos nós”, remata”.

Regenerar os terrenos

Um serviço de partilha de terreno e gado, com o objetivo de reduzir os custos de produção, prevenir os incêndios florestais, reter o carbono e aumentar a resiliência dos solos. Chama-se AniMob e está a dar os primeiros passos em Mafra.

João Xavier nasceu em Lisboa, mas sempre viveu no campo. Licenciou-se em Engenharia Zootécnica e, durante a pandemia, nas suas voltas pelo concelho de Mafra, reparou na “fraca gestão das terras e nas explorações animais de pequenas dimensões, sem espaço para dar rotatividade ao terreno, o que aumenta os custos da alimentação”. Começou então a pensar “se seria possível criar um maneio holístico, em que os animais existentes no município seriam usados para fazer a gestão dos biocombustíveis dos terrenos, tendo acesso a novas pastagens”, conta. No fundo, explica, “uma gestão regenerativa do território, através da mobilidade animal”.

O projeto, vencedor do concurso de ideias Mafra Up, ganhou o 2º lugar do Programa Triggers, da Casa do Impacto, mas ainda está numa fase inicial. “Conseguimos comprar algum material para pôr a mobilidade animal em prática e estamos a desenvolver projetos piloto nos vários tipos de terreno, para acertar a logística e estruturar os custos”, revela João Xavier.

No fundo, sublinha João Xavier, “o maneio regenerativo do território através do pastoreio dirigido já é uma realidade – a AniMob apenas quer digitalizar e automatizar o serviço, de modo que esteja disponível a qualquer proprietário”. E conclui: “A natureza tem a capacidade de se regenerar sozinha, nós temos apenas de a deixar e não contrariar”.

Há uma nova geração de ecoempreendedores que quer inspirar o mundo para a necessidade urgente de regeneração da natureza.