No RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a investigação e desenvolvimento dá resposta aos desafios de uma melhor floresta, com abordagens de silvicultura sustentável, com mais atenção à resiliência, ao nível da proteção contra pragas e doenças, e a novos materiais genéticos, mais produtivos, em planta e semente.
Na Herdade de Espirra, em Pegões, encontra-se o polo do RAIZ que integra os viveiros de investigação, os parques de hibridação, o pomar de sementes e o laboratório de biotecnologia.
O gestor do programa de melhoramento genético do eucalipto, José Alexandre Araújo – a quem os colegas chamam “pai dos clones” –, começa por deixar claro que não realizam manipulação genética. “São atividades de melhoramento convencional. Encontramos as plantas que melhor servem os objetivos de produção de pasta e papel, ou seja, critérios de crescimento e sobrevivência na floresta, madeira com melhor densidade, mais celulose no volume e mais rendimento na fábrica, que permita aproveitar com facilidade a sua fibra”, explica.
José Alexandre Araújo é o gestor do programa de melhoramento genético
do eucalipto no polo do RAIZ na Herdade de Espirra.
A seleção faz-se através dos testes realizados nas propriedades da The Navigator Company, onde existem áreas de ensaio, com meio hectare, para instalar novas plantas, bem identificadas ao nível do ADN (o que cria um código de barras), para não haver trocas. É o seu desempenho, medido em diferentes locais e condições ao longo de anos, que permite eleger os progenitores das futuras plantas a testar.
Depois, corta-se um ramo da árvore escolhida, que é enxertado num tronco enraizado em vaso, no parque de hibridação do RAIZ. O pólen é extraído da flor do pai, para análise do potencial, e é colocado pólen seco no estigma da flor das diferentes mães. Passados seis meses, quando há fruto, são recolhidas as cápsulas que contêm a semente de uma nova família. Os melhores filhos são então clonados, mas não como a ovelha Dolly: os clones de eucalipto são feitos em viveiro, com rebentos dos pés-mãe. Cada um dá origem a uma estaca que é colocada em substrato e cuidada ao longo do enraizamento, até estar pronta a ser instalada nos terrenos de ensaio, onde estão cerca de 36 mil árvores.
Este ciclo de melhoramento demora cerca de 15 anos, até um clone ser recomendado para integrar o parque de pés-mãe dos Viveiros Aliança, da Navigator, caso tenha características que interessam à área florestal da empresa. Neste momento, o RAIZ utiliza clones com árvores genealógicas que ascendem até há 30 anos, e alguns até têm nome. “O primeiro batizado, em 1998, chama-se Góis, em homenagem a Ernesto Góis, o primeiro grande divulgador português da floresta de eucalipto”, recorda José Alexandre Araújo. Outros, mais recentes, têm nomes como Estrela, Atlas e Gavião, votados internamente na companhia.
Mas o trabalho de melhoramento tem também outra via, a seminal. Existem na herdade dois pomares de eucalipto dos Viveiros Aliança, onde o RAIZ plantou os melhores clones, que se cruzam naturalmente, recolhendo-se, depois, as sementes melhoradas, que são também comercializadas.
O resultado de todo este trabalho está patente nos 11 clones em operação nos Viveiros Aliança, que apresentam ganhos em volume por hectare entre 30% e 50% em relação às plantas não melhoradas, consoante as regiões onde estão instalados sejam de elevada produtividade (sem déficit hídrico) ou de baixa produtividade. Como os melhores clones do programa de melhoramento apresentam ganhos na ordem de 70% a 80%, o RAIZ acredita que se o programa continuar, o valor a médio e longo prazo será ainda superior.
Para ajudar, na sede do RAIZ, no Eixo, perto de Aveiro, está a ser investigada a dimensão da resiliência e da proteção da floresta contra pragas e doenças. Na chamada “biofábrica”, decorre o desenvolvimento de novos inimigos naturais dos agentes biológicos que causam degradação das florestas. São organismos vivos, pequenos insetos produzidos para depois fazer largadas na natureza, tudo devidamente controlado e autorizado pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
Com vista a ter uma floresta mais sustentável, na área de silvicultura, o RAIZ dedica-se ainda à eficiência das operações, à atividade de fomento e apoio a entidades externas, e à transmissão de conhecimento das boas práticas, para as levar até aos produtores florestais. Na base de tudo está a atividade de caracterização edafoclimática (dos solos e do clima) realizada em todo o país. Trata-se de um mapeamento que serve de suporte às decisões de investimento, como a angariação de áreas para plantação e de alocação dos materiais genéticos.