Inovação pela economia circular

4 de Outubro 2021

Ao contrário do tradicional modelo económico linear, baseado num padrão “extrair-produzir-consumir-deitar fora”, a economia circular baseia-se na partilha, reutilização, reparação e reciclagem, num circuito quase fechado, no qual os produtos e os materiais que eles contêm são altamente valorizados.

Na prática, a economia circular é um conceito que implica reduzir o desperdício ao mínimo.

A natureza funciona em círculos renováveis, onde nada se desperdiça: a vida nasce, cresce e morre, os nutrientes regressam ao solo e o ciclo continua. Esta renovação também está na base da indústria da pasta e papel, que assenta numa matéria-prima natural e renovável – a madeira –, proveniente de florestas geridas de forma sustentável.

A madeira é transformada em vários tipos diferentes de produtos de papel, que, depois de servirem o seu propósito, são recolhidos e reciclados, tornando-se novamente em matéria-prima e fechando o círculo. E o processo de produção faz também parte desta circularidade, com a reutilização e reciclagem da água, que é maioritariamente devolvida ao ambiente depois de tratada, a produção de energia para autoconsumo com recurso à biomassa, e a simbiose industrial, que inclui a colaboração com outros setores para fechar ainda mais círculos.

Setor da pasta e papel dá o exemplo
É neste âmbito que se incluem alguns projetos levados a cabo pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, que procura estabelecer parcerias com outras empresas para alavancar a reutilização de subprodutos e resíduos dos seus processos.

Um desses projetos permitiu reintroduzir na produção de papel, como fonte de matéria-prima, o excedente de lamas de carbonato que resultam do fabrico de pasta. Este resíduo passou a substituir o calcário – que é um recurso não renovável – para a produção do carbonato de cálcio precipitado (PCC), substância de revestimento, preenchimento e pigmentação, usada para fazer papel de impressão e escrita. Feito em parceria com a fábrica-satélite da Specialty Minerals Inc. (SMI), instalada no Complexo Industrial da Figueira da Foz, este projeto foi publicado, enquanto caso de estudo, no documento “Circular Bioeconomy Report” produzido pelo WBCSD (World Business Council for Sustainable Development).

Outro caso que demonstra que a indústria da pasta e papel é um exemplo de economia circular é o projeto Paperchain, financiado pelo programa H2020 da União Europeia. Uma parceria de 20 entidades de cinco países (que, em Portugal, envolve a Universidade de Aveiro, a The Navigator Company, o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a Spral, a Megavia e o Cluster Habitat Sustentável), para avaliar a utilização dos resíduos desta indústria no setor da construção civil, em estruturas de betão pré-fabricado e em misturas betuminosas para pavimentação de estradas. O RAIZ acompanha, em conjunto com a Universidade de Aveiro, a monitorização técnica e ambiental de ambos os casos, e o desempenho destas soluções a longo prazo. A Navigator está envolvida no uso de dregs e grits (resíduos inorgânicos da produção de papel) como agregados finos e fillers na camada superficial de estradas, tendo sido construído um troço de 250 metros com diferentes misturas betuminosas, para testes.