Climaticamente inteligentes, resilientes e eficientes, as leguminosas são uma arma poderosa no atual contexto de aquecimento global. Ao mesmo tempo, oferecem-nos uma enorme riqueza nutricional e contribuem para a segurança alimentar das populações.
Outrora subestimadas, as leguminosas (Leguminosae ou Fabaceae) são hoje amplamente reconhecidas pelos inúmeros benefícios que oferecem – tanto ao nível da segurança alimentar das populações, como enquanto aliadas na proteção ambiental. O seu impacto é inegável quando se procuram modos de subsistência sustentáveis e formas de mitigar as alterações climáticas. Foi com este reconhecimento que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial das Leguminosas, celebrado todos os anos a 10 de fevereiro, em homenagem ao poder transformador destes superalimentos.
Disponíveis em diferentes cores, tamanhos e texturas, as leguminosas incluem ervilhas e as lentilhas, feijão e grão-de-bico, bem como favas e tremoços. Todas desempenham hoje um papel determinante na sustentabilidade do sistema agroalimentar. Não é por acaso que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destaca o seu cultivo como essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos na sua Agenda 2030. Mas, afinal, que superpoderes são estes que as pequenas leguminosas põem ao serviço da Humanidade?
Fixam nitrogénio, reduzem emissões e adaptam-se a novas condições
As leguminosas distinguem-se pela sua capacidade de fixar no solo, de forma natural, o nitrogénio atmosférico. Esse poder de capturar um nutriente essencial ao crescimento das plantas elimina a necessidade de fertilizantes sintéticos – o que contribui para a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associadas à produção e aplicação destes químicos no sistema agroalimentar.
São igualmente poderosas na promoção da fertilidade dos solos. Após as colheitas, as culturas de leguminosas deixam no solo parte do nitrogénio fixado, pelo que é especialmente benéfico utilizá-las em rotações com outras culturas, que podem, assim, beneficiar dos seus efeitos. Segundo a FAO, uma colheita de cereais em rotação após uma cultura de leguminosas atinge, em média, mais 1,5 toneladas por hectare do que se estas se não tiverem estado presentes.
A sua capacidade de adaptação a novas condições, resistindo a mudanças adversas, é outro dos motivos que faz delas culturas climaticamente inteligentes. Com uma ampla diversidade genética, as leguminosas vão desenvolvendo variedades mais adaptadas, acompanhando o ritmo das alterações climáticas. E permitindo que os sistemas agroalimentares se tornem mais resilientes.
Oferecem proteínas com uma reduzida pegada de carbono
A produção de leguminosas destaca-se também pela sua reduzida pegada de carbono. Segundo dados do Our World in Data, citados pela ONU, as leguminosas geram emissões significativamente mais baixas do que outros alimentos, nomeadamente aqueles que são fontes tradicionais de proteínas. Enquanto a produção de leguminosas resulta em cerca de 2 kg de CO2 equivalente (CO2e) por quilo de alimento, a produção de carne de bovino ultrapassa os 70 kg de CO2e por quilo. Recordamos que o CO2 equivalente (CO2e) é uma medida padronizada que agrega o impacto de todos os gases com efeito de estufa (GEE).
Se analisarmos as emissões de GEE por cada 100 g de proteína produzida, verificamos que o impacto das leguminosas é de apenas 0,9 kg de CO2 equivalente, enquanto o da carne de bovino atinge 35,5 kg. E por falar em carne, sabia que as leguminosas, quando incluídas na alimentação animal, ajudam a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa associadas à indústria pecuária?
Com uma longa vida útil – por permitirem ser conservadas secas –, as leguminosas reduzem a perda e o desperdício e promovem a segurança alimentar das populações. Nutritivas e acessíveis, climaticamente inteligentes e amigas dos solos, estes superalimentos são, assim, culturas incontornáveis para um futuro sustentável.