O papel continua a ocupar um lugar único, por mais ecrãs que entrem nas nossas vidas. As neurociências têm comprovado as inúmeras vantagens dos livros impressos em relação aos suportes digitais.
Abrir um livro, folheá-lo e cheirá-lo. Não há experiência de leitura igual. O papel é insubstituível, apesar de a tecnologia ser dominante em tantas áreas da nossa vida pessoal e profissional. A ciência comprova-o e as tendências de mercado são reveladoras.
Depois do efeito novidade, em 2014 as vendas de livros em formato eletrónico (e-books) começaram a decrescer e, desde então, as vendas de livros impressos não têm parado de aumentar.
Os dados da última pesquisa realizada pelo Pew Research Center, em 2021, revelam que, nos EUA, os livros impressos continuam a ser o formato mais popular, com 65% dos adultos a referir ter lido um livro impresso nos 12 meses anteriores, contra apenas 30% que referem ter lido um e-book. Curiosamente, são os mais jovens entrevistados (68%, entre os 18 e os 29 anos) que preferem a leitura em papel, e também os que têm formação superior (80%).
Vantagens dos livros impressos
Ao longo dos anos, inúmeros estudos têm concluído que o papel apresenta vantagens, tanto a nível de leitura, quanto de escrita.
No que diz respeito à aprendizagem, por exemplo, uma meta-análise levada a cabo pela Universidade de Valência, totalizando 170.000 estudantes em 19 países, sugere um “efeito de superioridade do papel”. O estudo conclui que o papel mostra uma clara vantagem sobre o digital na compreensão de leitura, mais ainda quando há restrições de tempo e/ou os textos são de cariz informativo. Os autores verificaram ainda que a superioridade do papel aumenta em pessoas com idade inferior a 20 anos. O mesmo trabalho revela também que o papel permite um desempenho superior na aprendizagem e compreensão durante o ensino básico, consubstanciado na utilização de manuais e livros escolares impressos.
Na sequência destes trabalhos, no início de 2019, mais de uma centena de investigadores e cientistas europeus assinaram aquela que ficou conhecida por “Declaração de Stavanger”, referindo o estudo efetuado pela Universidade de Valência e concluindo que uma transição do papel para o digital não será neutra na aprendizagem, podendo causar atraso no desenvolvimento das crianças no que respeita à compreensão da leitura e pensamento crítico.
Escrever em papel é aprender melhor
Também existem vantagens comprovadas na escrita manual em papel em relação à escrita num teclado. Um estudo de 2014 com alunos universitários concluiu que os estudantes que escreviam os apontamentos das aulas à mão, em papel, tinham melhor performance na resposta a questões conceptuais do que os estudantes que tomavam notas no computador portátil.
Um outro trabalho de 2016 concluiu que a escrita em papel promove o pensamento abstrato face à escrita em meios digitais. E outros estudos mais recentes, de 2020 e 2021, apontam para uma melhor retenção de conhecimento e uma maior atividade cerebral quando se escreve em papel, face à escrita em meios digitais.