Projetos de recuperação entre Portugal e Espanha têm ajudado ao crescimento da população de lince ibérico nos dois países. Aquele que é o felino mais ameaçado do mundo continua em perigo, mas, do primeiro censo que, em 2002, apontava para uma existência de 94 linces na Península Ibérica, colocando a espécie muito perto da extinção, em 2020 estima-se que o número ultrapasse os 800. Um exemplo de que é possível intervir com sucesso na perda de biodiversidade.
Em Portugal, os censos agora divulgados pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) dizem respeito a 2019 e referem que a população de lince ibérico reintroduzida no Vale do Guadiana a partir de 2015, no âmbito do projeto ibérico LIFE+Iberlince, atingiu um total de 107 exemplares.
Desses, 61 são adultos ou sub-adultos com mais de um ano, e 46 são crias nascidas na primavera de 2019. Nessa altura, das 13 ninhadas referenciadas na zona, três geraram cinco crias cada uma, quando anteriormente o máximo registado foi de quatro crias por ninhada, o que torna a taxa de nascimentos do Vale do Guadiana a mais elevada da Península Ibérica.
De acordo com o ICNF, esta taxa de nascimentos é “reveladora de abundância de alimento, de disponibilidade e adequabilidade de habitat e de tranquilidade proporcionada pelos proprietários e gestores do território, além de aceitação pela população residente”.
Durante o ano de 2019, a área ocupada ou utilizada pelos linces em Portugal sofreu também um acréscimo significativo, tendo ultrapassado os 300 km2, agrupados em 4 núcleos que se distribuem pelos territórios de Serpa, Mértola, Castro Verde e Alcoutim.
Recorde-se que, entre 2015 e 2017, foram libertados 27 animais no Vale do Guadiana, criados em cativeiro, e desde 2016 que há reprodução na natureza.
O que significa reintroduzir uma espécie selvagem na natureza?
Uma reintrodução, explica o ICNF, “é uma tentativa de estabelecer uma população selvagem viável de uma dada espécie, numa determinada área geográfica que já foi parte da sua distribuição histórica, mas onde esta espécie foi extinta”.
Faz-se recorrendo a animais nascidos em cativeiro, mas o seu sucesso depende de vários fatores, nomeadamente o desaparecimento das causas anteriores de extinção da espécie e a existência de qualidade do habitat numa área suficiente para albergar uma população.
Por exemplo, em Portugal, de forma a selecionar a área mais apta para o estabelecimento de uma população viável de lince, realizaram-se previamente censos de coelho-bravo (do qual depende a sua alimentação), fez-se uma avaliação das zonas de matagal e arborizadas, e um levantamento das ocorrências de armadilhas ilegais e risco de atropelamento. Estabeleceram-se também acordos com proprietários no concelho de Mértola, em áreas onde se construiu um cercado de adaptação para os primeiros animais vindos de cativeiro.
De acordo com o ICNF, o lince “é uma espécie-chapéu”, pelo que “a sua conservação beneficia muitas outras espécies e os territórios”.