Apaixonados por insetos, por aves, por cogumelos e por árvores, a floresta é o seu “escritório”.
Passam a maior parte do tempo na floresta, devido à atividade profissional que escolheram. De tal forma que já se sentem parte do habitat. Com atividades diferentes, todos contribuem para garantir que este ecossistema continua a desempenhar o seu papel vital no equilíbrio do Planeta.
João Silva, micólogo
“Poder ganhar a vida na floresta é gratificante”
Identificar cogumelos e outros fungos é quase uma missão para João Silva. Por isso, muito do seu tempo é passado na floresta. “Sempre tive um gosto muito grande pela natureza. Quis ser biólogo desde cedo, o que não chegou a concretizar-se”, conta. Mas cumpriu o sonho de trabalhar em comunhão com a natureza, sem o confinamento das quatro paredes de um escritório.
Na Verde – Associação para a Conservação Integrada da Natureza, onde faz inventariação de arvoredo em espaços públicos e parques florestais, ao lado de um engenheiro florestal, dedica-se “a explorar a floresta por essas serras e vales”. “Somos contratados pelos Municípios e, em função da dimensão do concelho, o trabalho pode durar entre quatro meses e um ano”, explica.
Independentemente dos trabalhos de inventariação de arvoredo, entre outubro e janeiro de cada ano, João Silva tem uma ocupação secundária que o apaixona e da qual não abdica: “Faço identificação de cogumelos e outros fungos em árvores e dou workshops sobre esta matéria”, conta. “Mas, seja qual for o contexto ou objetivo, trabalhar com a natureza e poder ganhar a vida na floresta é sempre gratificante”.
Rogério Cangarato, ornitólogo
“É necessário reforçar a ligação cultural e emocional das pessoas com a floresta”
“O meu pai era caçador, pelo que o meu contacto com a floresta e a natureza começou por aí. Mas eu agarrei-me aos binóculos e o meu pai, entretanto, deixou a espingarda.” Rogério Cangarato considera-se um “ornitólogo autodidata”, por não ter formação em biologia, já que iniciou a observação de aves “nos tempos de liceu, com um grupo de amigos que já o fazia.”
Desempenhou funções técnicas no Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, onde iniciou a colaboração com a The Navigator Company. Hoje, é consultor e colabora com a empresa na Herdade de Espirra, “na instalação de ninhos artificiais para aves insetívoras, ajudando também na monitorização do projeto”.
Está ainda envolvido na preservação da águia-de-Bonelli no sul de Portugal. “É uma espécie ameaçada e prioritária a nível europeu. E, como tal, têm sido tomadas medidas de conservação específicas, dado que as aves tendem a ficar décadas no mesmo local se os ninhos forem preservados, através de uma gestão florestal responsável”, afirma o ornitólogo.
“É necessário reforçar a ligação cultural e emocional das pessoas com a floresta”, refere, pois só assim, diz, “todos teriam maior consciência da necessidade de a preservar e proteger”.
Pedro Henriques, entomólogo
“É na floresta que me sinto bem”
A sua paixão pela natureza surgiu cedo. “Aos cinco anos, o meu pai levava-me para a floresta e fui ganhando, desde muito pequeno, gosto por observar os animais”, recorda o investigador Pedro Henriques, que estuda aves e insetos há mais de 20 anos.
Em 2012, fundou o Clube Xzen, Associação de Educação para a Cultura, Ciência e Desenvolvimento Sustentável, cujo lema é “mudar as mentalidades” em relação aos insetos. “Queremos pôr as crianças, aos três e quatro anos de idade, a contactar com os insetos, a tocar-lhes, ajudando assim a quebrar mitos. Na sua maioria, os insetos não são perigosos”, garante. “Só há cinco por cento com os quais se deve ter cuidado”, ressalva.
Nas suas investigações, fez duas descobertas relevantes em explorações florestais. “Em 2012, redescobri a mosca das flores, crucial para a polinização, de que não havia registo em Portugal desde 1948. E, em 2016, encontrei uma nova espécie, nunca registada no nosso país – a borboleta noturna, que comecei a estudar em 2017”, conta.
Pedro Henriques sente-se parte do habitat da floresta: “É lá que me sinto bem”.
António Aires, engenheiro florestal
“Sinto que tenho de retribuir à natureza tudo o que ela nos dá”
António Aires gere uma equipa de cinco pessoas que tem sob sua responsabilidade 35 mil hectares de floresta. São 4.462 talhões e 447 propriedades, distribuídas por 17 concelhos e 46 freguesias. São também centenas de espécies de fauna e flora. “Temos muito orgulho no que fazemos, em gerar valor através da floresta”, diz.
Este engenheiro florestal trabalha na The Navigator Company há 22 anos, onde hoje assume a função de Coordenador de Produção e Exploração Florestal da Região Sul. No final do dia, confessa que o que o move é o sentimento de querer “retribuir à natureza tudo o ela nos dá.”
Foi esse o espírito que o fez idealizar um projeto que está a ser atualmente desenvolvido na Herdade de Espirra, em Pegões, com o objetivo de aumentar as populações de insetos polinizadores, através de sementeiras de determinadas espécies que os atraem, promovendo, assim, a biodiversidade. Mas também incrementar a disponibilidade de água, de frutos e sementes, permitindo o aumento das populações de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. “Queremos que este projeto possa ser um exemplo. Na Navigator, somos formados a respeitar a natureza e a floresta, e este projeto nasceu desse respeito”, explica.
