Mães golfinho também falam “maternalês”

5 de Setembro 2023

Não são só os humanos que modificam o tom vocal para falar com os seus bebés. Um estudo recente vem demonstrar que também os golfinhos adaptam os sons que emitem, ao comunicar com as crias.

O reino dos cetáceos é conhecido pela sua complexidade social e também pelas capacidades de comunicação que estes animais possuem. No caso particular dos golfinhos, uma das espécies mais estudadas, além da simpatia, destacam-se pela sofisticação da comunicação vocal. Recentemente, um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) revelou que as mães golfinho modificam os assobios de identificação na presença dos seus filhotes.

“Os prestadores de cuidados humanos que interagem com crianças modificam normalmente o seu discurso de forma a promover a atenção, a criação de laços e a aquisição de linguagem. Embora este “maternalês”, ou Comunicação Dirigida à Criança (CDC), ocorra numa variedade de culturas humanas, a evidência entre espécies não humanas é muito rara. “Procurámos a sua ocorrência numa espécie de mamífero não humano, com laços de longa duração entre mãe e filho, e capaz de aprender a produção vocal”, pode ler-se no estudo “Bottlenose dolphin mothers modify signature whistles in the presence of their own calves”, desenvolvido por cientistas do Departamento de Biologia do Woods Hole Oceanographic Institution, nos Estados Unidos, e realizado em ambiente natural, com golfinhos-roazes (Tursiops truncatus).

 Adaptação consistente e distinta

A assinatura sonora dos golfinhos, conhecida como “assobio de identificação” é uma vocalização única para cada indivíduo e desempenha um papel fundamental na identificação e no reconhecimento social entre membros de um grupo. Durante este estudo, os cientistas notaram que, na presença dos filhotes, as mães golfinho adaptavam as suas vocalizações, de forma consistente e distinta, tornando o assobio de identificação mais curto e agudo. Percebeu-se ainda que estas alterações são mais frequentes quando interagem diretamente com as crias.

“Os nossos resultados fornecem provas, num mamífero não humano, de alterações nas mesmas vocalizações quando produzidas na presença ou na ausência de crias e, por conseguinte, apoiam fortemente a evolução convergente do “maternalês”, ou CDC, nos golfinhos roazes. O CDC pode funcionar para melhorar a atenção, a ligação e a aprendizagem vocal nas crias de golfinhos, tal como acontece nas crianças humanas”, explicam os cientistas.

Esta capacidade de as mães golfinho modificarem os seus assobios de identificação vem demonstrar a flexibilidade e complexidade da comunicação animal e destacar a importância de explorar e entender essa comunicação, especialmente nas espécies mais inteligentes e sociais, como os golfinhos.

Na presença dos filhotes, as mães golfinho adaptam as suas vocalizações, tornando o assobio de identificação mais curto e agudo. Uma forma, acreditam os cientistas, de melhorar a atenção, a ligação e a aprendizagem.