Em novembro, Portugal anunciou a criação da maior área marinha protegida da Europa. A nova reserva amplia as proteções já existentes e aproxima o mundo da meta de proteger 30% do oceano até 2030.
São 2 677 quilómetros quadrados em redor das Ilhas Selvagens, um pequeno arquipélago no Atlântico Norte, a meio caminho entre a Madeira e as Ilhas Canárias, e o território português mais a sul.
A partir de agora, qualquer atividade extrativa, desde a pesca à exploração de inertes (por exemplo, areia), passou a estar proibida numa área de 12 milhas náuticas em redor do pequeno arquipélago, oficialmente descoberto em 1438 por Diogo Gomes.
No ano em que a reserva natural das ilhas Selvagens faz 50 anos – foi criada em 1971, para proteger um ecossistema único –, esta zona torna-se, assim, a maior área marinha da Europa, e de todo o Atlântico Norte, com a mais abrangente classe de proteção.
A expansão foi baseada em pareceres científicos, para os quais muito contribuiu, por exemplo, o estudo realizado pela Pristine Seas, um projeto de exploração subaquática da National Geographic que, em 2015, perscrutou desde as águas rasas até às profundezas, e filmou a biodiversidade em redor das Ilhas Selvagens, numa parceria com a Fundação Oceano Azul e a Fundação Waitt.
Este levantamento subaquático do ecossistema, realizado com equipamento de alta tecnologia, descobriu que as águas abertas em torno do arquipélago – constituído pelas ilhas Selvagem Grande e Selvagem Pequena, e vários ilhéus –, eram um ponto de passagem essencial para a migração de peixes e mamíferos no Atlântico, e que as águas próximas da costa representavam importantes habitats de viveiros. A equipa da Pristine Seas identificou 51 espécies de peixes, incluindo tubarões, barracudas e moreias.
Esta é a forma que a Pristine Seas encontrou para ajudar os oceanos: inspirar os governos na proteção de ecossistemas marinhos único, através de expedições que documentam a sua incrível biodiversidade. Nos últimos 12 anos, o projeto passou por 31 áreas diferentes e, desde então, 24 delas foram protegidas. Essas novas reservas cobrem uma área de mais de 6 milhões de quilómetros quadrados (mais do que o dobro do tamanho da Índia).
O objetivo defendido na Estratégia Europeia para a Biodiversidade passa por proteger pelo menos 30% do oceano, aumentando gradualmente as zonas de conservação, para mitigar as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Esta nova reserva de Portugal é mais um passo nesse sentido.