É necessário ler mais e melhor. De preferência, textos longos e complexos, como acontece quando lemos um livro. Estes são os apelos do Manifesto de Leitura Ljubljana, que será apresentado na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, no próximo dia 18 de outubro.
A leitura é uma aprendizagem dos primeiros anos de vida. Mais tarde, na vida adulta, é um ato de liberdade que nos enriquece e nos estimula os sentidos. Uma experiência que nos faz viajar sem sair do lugar e que transforma a forma como olhamos para o mundo. No entanto, na era digital e de consumo rápido em que vivemos, as competências da leitura estão cada vez mais comprometidas. Os textos longos que os livros nos oferecem, e que estimulam um pensamento crítico e analítico, estão muitas vezes a ser preteridos por uma leitura superficial e dispersa nos vários ecrãs que enchem as nossas vidas.
Perante este cenário de “anorexia” de hábitos de leitura, um grupo de especialistas e investigadores lançou o Manifesto de Leitura de Ljubljana, uma iniciativa em defesa da importância da leitura aprofundada no mundo tecnológico atual. O Manifesto, que já tem como signatários a Associação Internacional de Editores, a Academia Alemã de Língua e Literatura, a Federação de Editores Europeus, o clube de escritores PEN Internacional e a Federação Internacional de Associações de Bibliotecas, será apresentado na Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, no dia 18 de outubro. Esta iniciativa faz parte do programa cultural preparado pela Eslovénia — país convidado de Honra da 75ª edição do evento literário — que pretende dar destaque à relevância da leitura aprofundada de livros na era digital.
O objetivo maior do Manifesto prende-se com a necessidade de reconhecer a leitura aprofundada, por oposição à leitura superficial, como sendo indispensável para fortalecer o pensamento crítico e as competências sociais indispensáveis a cidadãos informados, numa sociedade democrática. “A leitura aprofundada é a nossa ferramenta mais poderosa para o pensamento analítico e estratégico. Sem ela, estaremos mal equipados para combater as simplificações populistas, as teorias da conspiração e a desinformação e, consequentemente, tornar-nos-emos vulneráveis à manipulação”, lê-se no documento.
Os autores do Manifesto partilham da ideia de que “a revolução digital trouxe muitos resultados positivos”, uma vez que pôs “enormes quantidades de conteúdo de áudio, visual e textual ao nosso alcance”. No entanto, ressalvam que é necessária “uma reconsideração da importância da leitura mais aprofundada na era digital”. E acrescentam: “São especialmente os textos longos, como os livros, que aprimoram as habilidades de leitura de nível superior, que nos treinam para testar diferentes interpretações, detetar contradições, preconceitos e erros lógicos, e que nos ajudam a estabelecer ligações culturais de que necessitamos para a troca de julgamentos e emoções humanas”.
Autor do Manifesto participou, em Lisboa, na Book 2.0
Adriaan van der Weel, professor emérito na Universidade de Leiden, nos Países Baixos, um dos autores do Manifesto de Leitura de Ljubljana, foi também um dos oradores da conferência Book 2.0, que decorreu em Lisboa, no passado mês de setembro. Na sua participação, Adriaan van der Weel — que há mais de uma década estuda a revolução digital e as suas consequências para a leitura — foi perentório ao afirmar que a compreensão de um texto é reduzida se for lida num monitor, sobretudo em contexto de aprendizagem, quando se trata de manuais escolares.
O académico holandês também esteve ligado, no início de 2019, àquela que ficou conhecida por Declaração de Stavanger sobre o futuro da leitura. Nesta, cerca de uma centena de investigadores e cientistas europeus alertam professores e educadores para o facto de uma transição do papel impresso e escrito à mão para meios digitais poder comprometer o desenvolvimento das crianças na compreensão da leitura e no desenvolvimento do pensamento crítico.
O Manifesto de Leitura de Ljubljana sustenta que a leitura aprofundada melhora o pensamento crítico, a empatia cognitiva e competências sociais cruciais para cidadãos informados numa sociedade democrática.