Mentir com quantas folhas tem

31 de Março 2025

Na natureza, há plantas que enganam com mestria. São falsas – mas nada artificiais. Descubra as espécies que desenvolvem estratégias brilhantes para enganar tudo e todos.

Não sabemos como ou quando o ser humano desenvolveu a capacidade de mentir. Mas é fácil imaginar o que terá estado na origem dos primeiros embustes: a necessidade de sobreviver. Hoje, mentimos por inúmeras razões, mas no restante reino animal este comportamento mantém-se como uma ferramenta primitiva de sobrevivência num mundo implacável. “Fazer-se de morto” é uma dessas estratégias enganosas em que um animal arrisca a vida mostrando que já não a tem. Parece absurdo? Muito. Funciona? Também.

Se nos humanos – e restantes animais – é relativamente fácil identificar os mecanismos da mentira através do comportamento, no mundo das plantas o desafio é outro. Aqui, perceber o engodo exige um olhar mais atento e conhecimento do contexto. Veja-se o caso da orelha-de-elefante, da espécie Caladium steudneriifolium: ao detetar a aproximação de mariposas que procuram folhas viçosas para se alimentarem e depositarem ovos, esta planta recorre a uma mentira descarada – cobre-se de um tom branco pastoso, como se estivesse doente. A mariposa, enganada pela aparência, parte em busca de melhores pastagens.

Este estilo de mentira tem plantas imitadoras por todo o mundo, mas poucas são tão convincentes como o maracujazeiro (Passiflora edulis). Ao “inventar” formas de afastar borboletas à procura de um local para depositar os seus ovos, esta espécie cria estruturas que imitam ovos falsos, dando assim a sensação de já estar ocupada e levando a borboleta a seguir viagem.

Deixa-os pousar

Por vezes, as artimanhas não servem para afastar, mas para atrair. É o caso da Drosera rotundifolia, ou orvalhinha, uma planta que produz aquilo que parecem ser inocentes gotas de orvalho. Mas é tudo mentira, claro, e quando os insetos, atraídos pelo brilho enganador, se apercebem, já é tarde: as gotas são, na verdade, enzimas digestivas que decompõem tudo o que lhes toca em nutrientes para alimentar a planta. Em sua defesa, a orvalhinha mente como último recurso – só quando o solo é demasiado pobre, e sempre como suplemento nutricional, nunca como prato principal.

Um outro exemplo, mais pacífico, é o da Ophrys apifera, ou erva-abelha, que recorre a uma combinação de cores e texturas para enganar: as suas pétalas aveludadas imitam com precisão a forma de uma abelha fêmea. Seduzidos pela promessa de acasalamento, os machos aproximam-se e aterram. No processo, transferem o pólen da flor… e partem de mãos a abanar. A planta, essa, alcança o seu objetivo sem grande esforço.

Um pouco mais macabro é o caso de algumas espécies do género Bulbophyllum (da família das orquídeas) e da imponente Amorphophallus titanum. Estas plantas levam a mentira ao extremo, produzindo um odor semelhante ao da carne de animais em decomposição. O objetivo? Atrair insetos necrófagos, como a mosca-varejeira, em busca de um local ideal para depositar os seus ovos. Quando chegam, apercebem-se de que o “banquete” não passa de uma farsa – mas nessa altura, o pólen já ficou entregue. A planta vence, a mosca parte enganada.

São mentiras sem culpa, refinadas pela evolução. Na natureza, a verdade é uma questão de sobrevivência. E, às vezes, a melhor forma de viver… é fingir.