Missão: remover CO₂ da atmosfera

9 de Agosto 2024

Quanto dióxido de carbono estamos a remover da atmosfera? Será suficiente? Relatório recente faz diagnóstico e aponta caminhos para enfrentar a crise climática.

Perante a necessidade de ações no sentido de garantir o cumprimento das metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris, uma das medidas urgentes, apontam os especialistas, é o aumento da remoção de dióxido de carbono da atmosfera. Atualmente são removidos, por ano, cerca de dois mil milhões de toneladas de CO₂. Mas, para manter a subida das temperaturas abaixo de 1,5 graus Celsius, será necessário que esse valor seja quadruplicado até 2050. A quantidade de dióxido de carbono removido deverá situar-se, nessa altura, entre os sete e os nove mil milhões de toneladas.

São valores avançados na segunda edição do relatório “State of Carbon Dioxide Removal” (O Estado da Remoção de Dióxido de Carbono) – uma avaliação global, independente e científica, que tem como objetivo informar investigadores, decisores políticos e outros profissionais sobre o progresso dos esforços globais no sentido de retirar CO2 da atmosfera. O estudo partiu da recolha e análise sistemática de uma vasta quantidade de dados, de projetos de todo o mundo, e envolveu mais de 50 peritos internacionais.

A Remoção de Dióxido de Carbono (ou CDR, a sigla em inglês) engloba qualquer atividade humana que promova a retirada ativa do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, mantendo-o armazenado por décadas ou mesmo milénios. Dado que não é possível reduzir na fonte todas as emissões de gases com efeito de estufa, a remoção de CO2 é vital para compensar as emissões inevitáveis e limitar o aquecimento global. Esta remoção pressupõe que o CO2 retirado é armazenado em segurança, não podendo, assim, contribuir para o aumento da temperatura global.

 

Não basta remover CO₂

Existem muitas formas de capturar e armazenar CO₂, com diferentes níveis de resposta, potencial e durabilidade. Mas muitas delas não são inócuas, apresentando riscos de sustentabilidade que podem limitar a sua implementação a longo prazo, alerta o relatório.

Gregory Nemet, professor da Universidade de Wisconsin-Madison e um dos autores do estudo, afirmou que “nada vem de graça” e que o CDR não é uma panaceia: “Independentemente da quantidade de remoção de dióxido de carbono que fizermos, teremos de continuar a reduzir, rapidamente, as emissões de combustíveis fósseis, e de travar a desflorestação”.

O relatório não se limita a fazer um diagnóstico, também aponta caminhos. Para cumprir as metas climáticas globais, os governos têm de plantar mais árvores e de adotar soluções em larga escala, como os biocombustíveis e o cultivo de algas nos oceanos.

Árvores: “removedores” naturais de carbono

As florestas são os ecossistemas terrestres com maior capacidade de sequestro de dióxido de carbono. Aliadas incontornáveis no combate à crise climática, cada árvore é um agente natural ativo na remoção deste gás da atmosfera. Assim, quanto maior a área de floresta, maior é o potencial para a captura e armazenamento do CO2.

Através da fotossíntese, as árvores retiram CO2 da atmosfera e retêm-no nas raízes, caules e folhas. Outra parte do CO2 removido pela floresta fica armazenada no solo. Mas esta capacidade das florestas perece ser também afetada pela ação humana. Segundo um estudo publicado na revista Nature, em novembro passado, as alterações climáticas e as mudanças no uso dos solos estão a fazer diminuir o potencial natural das florestas no que diz respeito ao sequestro de carbono.

Na ausência de perturbação humana, e de acordo com as condições do clima atuais, o potencial global de armazenamento de carbono nas florestas seria cerca de 600 Gt. Mas este armazenamento “está notoriamente abaixo do potencial natural, com um défice total de 226 Gt em áreas com baixa intervenção humana”, diz o estudo da Nature. Os autores defendem que os resultados “apoiam a ideia de que a conservação, restauro e gestão sustentável das diversas florestas oferecem contribuições valiosas para o cumprimento das metas globais em matéria de clima e biodiversidade”.

A remoção de CO2 da atmosfera, através de novas técnicas, é uma das muitas frentes em que é preciso investir, de forma a limitar o aquecimento global. Mas tem de avançar associada a outros esforços, como o aumento das áreas de floresta.