Monsanto, uma floresta plantada pelo Homem

11 de Junho 2021

Parece que sempre ali esteve, mas o Parque Florestal de Monsanto foi plantado pela mão humana, e não há muito tempo. O primeiro parque florestal urbano da Europa com certificação florestal é um exemplo de que é possível melhorarmos o ambiente em que vivemos.

Este ano iniciam-se as comemorações dos 90 anos da ideia de construir um parque verde na zona de Lisboa, reflorestando a serra do Monsanto, pedregosa e ventosa, onde existiam moinhos, cereais, algumas oliveiras e pedreiras para a calçada portuguesa.

O grande impulso foi dado por decreto-lei, em 1934, depois de uma primeira comissão para planear a arborização. O projeto foi dinamizado por Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas de Salazar, que, ao considerar a obra de elevado interesse, conseguiu a colaboração do arquiteto Francisco Keil do Amaral para desenhar o espaço, e a mobilização de um exército de mão-de-obra composto por militares, presidiários, trabalhadores pagos à jorna e elementos da Mocidade Portuguesa.

Na mancha verde que hoje se estende entre Alcântara, Belém, Ajuda e Benfica, com vista para o rio Tejo, foram plantadas vastas áreas de mata diversificada, com 43 espécies nomeadas na lista de arvoredo do atual Centro de Interpretação do Parque. Entre elas, estão dois tipos de eucalipto: Eucalyptus camaldulensis Dehn e Eucalyptus globulus Labill, reconhecidos como espécies introduzidas na Península Ibérica “nos arredores de Coimbra, junto ao Rio Mondego, em 1866, com o objetivo de controlar a corrente e a erosão do solo”, e que “como ornamentais, em parques e jardins, são árvores fantásticas, imponentes e com uma grande presença, devido ao seu porte majestoso aliado à folhagem perene e perfumada, e também à casca decorativa”.

O espaço foi também planeado com vários equipamentos e muitos outros foram sendo acrescentados ao longo das décadas. Desde então, o parque evoluiu do conceito do século XIX, de “pulmão verde” isolado, para uma estrutura verde contínua de usufruto da comunidade. De 600 passou a 1045 hectares, com mais de 250 mil árvores. O plano de ordenamento e revitalização lançado pela Câmara de Lisboa, em 1991, inaugurou o Parque da Serafina, reabilitou o Parque do Alvito e o Parque do Calhau, criou o Centro de Interpretação de Monsanto e um parque ecológico de 16 hectares, identificado agora como Espaço Biodiversidade.

Para além dos atuais 15 miradouros panorâmicos, 88 quilómetros de trilho e três rotas de BTT, o parque tem 103 espécies de aves referenciadas e 157 espécies de cogumelos. Em 2016, foi o primeiro parque florestal urbano da Europa a ser certificado pela sua gestão sustentável.

Longe estão os dias em que se realizavam corridas de Fórmula 1 no parque, como aconteceu na década de 1950. Mas é possível revisitar a história deste ex-libris da capital portuguesa, desde o seu projeto, na exposição “Nove Décadas do Parque Florestal de Monsanto”, que está patente no Centro de Interpretação de Monsanto até final do ano. Pode vê-la online, aqui.