A literacia científica será decisiva para resolver os problemas complexos que desafiam a humanidade. É por isso que o geofísico Filipe Duarte Santos, uma autoridade em matéria de alterações climáticas, exorta os jovens a estarem atentos e a manterem-se informados.
“A sustentabilidade não é compatível com tensões geopolíticas, guerras, alterações climáticas a não serem combatidas, transição energética adiada, falta de recursos hídricos, incêndios e perda de biodiversidade”, garante Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, apelando aos jovens para dedicarem atenção aos desafios científicos que ajudarão a Humanidade a ultrapassar problemas gravíssimos, como o aquecimento global. “O mundo depende cada vez mais da ciência e da tecnologia”, insiste, apontando o conhecimento como chave para a nossa salvação coletiva.
“É muito importante não esconder os problemas debaixo do tapete, levando as pessoas a estarem atentas, para compreenderem o que se passa no mundo”, diz. “O conhecimento científico é essencial para resolver os problemas e, nos últimos meses, nota-se uma insistência muito grande no desacreditar da existência de alterações climáticas, o recrudescimento de uma narrativa que não é científica, mas passa nos telemóveis e na televisão, seguindo o esforço de alguns think tanks americanos para desacreditar a ciência”, alerta o geofísico.
Economia afetada
Intimamente relacionados, o aquecimento global e a perda de biodiversidade são dois dos maiores perigos que ameaçam a humanidade. “A humanidade e não o planeta, como se ouve. Há 90 milhões de anos, a temperatura média da atmosfera à superfície era entre 7 e 10 graus Celsius mais elevada, e havia vida diversificada na Terra, com dinossauros e mamíferos. O nosso problema é a mudança climática rápida e acelerada, que começou com a Revolução Industrial e, em menos de 300 anos, nos cria situações muito difíceis. O planeta, a natureza, vão adaptar-se, como já aconteceu”, explica Filipe Duarte Santos.
Travar o aquecimento global passa, essencialmente, pela transição para um novo paradigma energético, que não dependa dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão), emissores de CO2 e outros gases com efeito de estufa. “A União Europeia é um caso paradigmático, diminuindo emissões desde 1990, mas só representa 7 por cento das emissões globais. Os EUA só 15 anos depois iniciaram a redução, mas a China não deverá chegar lá antes do final da década e a Índia nem sequer tem perspetivas de quando atingirá o seu máximo de emissões”, diz, referindo-se às quatro maiores economias globais, salientando que os EUA continuam a ser, “de longe, o maior emissor per capita”.
“Sem se fazer a necessária transição para energias que emitem menos gases com efeito de estufa, o que exige cooperação entre os países, teremos mais secas, mais ondas de calor, mais inundações, que não afetarão todos por igual, mas, sem dúvida, serão um fardo cada vez maior e, assim, afetarão o crescimento económico”, conclui.
A ação dos jovens será determinante
A esperança de Filipe Duarte Santos está nos jovens, “atentos e com mais conhecimento. A ação deles é que será determinante neste caso específico. A minha geração retirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, melhorou a mobilidade e as comunicações, com a revolução digital, mas, em termos ambientais e de sustentabilidade, piorou a situação. Por isso, o número de pessoas que não têm segurança alimentar está de novo a aumentar, pois, além de fatores adicionais como a guerra, que têm feito escassear os cereais e os fertilizantes, os eventos climáticos extremos prejudicam a produtividade agrícola, como se tem verificado na Índia com o trigo, na China com o arroz e em muitas outras regiões do mundo.”
“Cada geração social traz uma grande energia e vontade de fazer diferente”, pelo que, defende, compete-nos promover a literacia científica, recusando “o estímulo e a gratificação imediata, sem cultivar a curiosidade. A ciência é fruto da curiosidade, é o gosto de observar e compreender o mundo, indo ao fundo das questões”, a única via para chegar às soluções que nos conduzirão à sustentabilidade.