Nem só de pinheiros se faz o Natal

27 de Dezembro 2022

O azevinho, belo e espinhoso arbusto de folhas verdes e frutos encarnados, é muito apreciado nesta altura do ano, dando um toque especial a coroas, grinaldas e centros de mesa.

As suas folhas verdes brilhantes contrastam de forma admirável com o encarnado das bagas. E talvez seja este ar de quem já traz decoração natalícia incluída que o tornou tão popular. Ou quiçá a associação cristã das folhas à coroa de espinhos de Jesus, e dos frutos ao seu sangue.

Reza a história que o seu uso remonta ao paganismo celta, onde era tido como símbolo de imortalidade, devido às folhas persistentes, que se mantêm durante todo o ano. Os romanos terão incorporado essas crenças nas suas festas de Saturnália, nas quais celebravam o solstício de inverno, juntando ao azevinho o simbolismo de paz, saúde e felicidade.

Mais tarde, estas tradições acabariam por ser integradas no Natal cristão, celebrado mais ou menos na mesma altura. Diz-se também que os arbustos de azevinho ajudaram a esconder Jesus dos soldados de Herodes, e que a manutenção das folhas verdes mesmo durante o inverno terá sido recompensa divina, a título de reconhecimento.

Uma espécie protegida

Seja qual for a explicação histórica, o azevinho chegou aos nossos dias como presença assídua das celebrações natalícias. Mas não se sinta tentado a colher uns ramos para levar para casa: esta é uma espécie protegida, pelo que o seu corte, total ou parcial, é proibido.

De nome científico Ilex aquifolium, é a única planta da família Aquifoliaceae na Europa, sendo considerada uma relíquia da antiga floresta Laurisilva (florestas subtropicais húmidas do período pré-glaciar).

Trata-se de um arbusto ou pequena árvore com até 12 m de altura, que encontramos em carvalhais e matagais em regiões montanhosas. É uma espécie dioica, isto é, os sexos são separados, havendo plantas masculinas, produtoras de pólen, e plantas femininas, produtoras de frutos e sementes. As pequenas flores brancas aparecem entre abril e junho, e os frutos, inicialmente verdes, amadurecem no fim do verão, tornando-se encarnados e persistindo durante todo o inverno.

Estes frutos são tóxicos — 20 ou 30 bagas, ingeridas, podem ser fatais, segundo alerta o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas). Mesmo as folhas apresentam algum grau de toxicidade. Assim sendo, para quem tenha crianças ou animais, não é recomendável manter um azevinho em casa ou no jardim.

Cuidado com as “imitações”

Existe também em Portugal um “falso azevinho”, mais abundante em todo o território, e que, talvez por isso, ganhou terreno ao “verdadeiro azevinho” nesta época festiva. Trata-se da espécie Ruscus aculeatus, conhecido como gilbardeira ou vasculhos. É um pequeno subarbusto, com cerca de um metro de altura, também ele de folha verde e fruto encarnado.

Duas espécies bem distintas, cuja confusão, para os leigos, tem origem no belo efeito ornamental que tanto uma como outra produzem. Ambas têm, no entanto, estatutos de proteção. No caso do azevinho, devido à sua raridade em território nacional; e, no caso da gilbardeira, devido à sua raridade no território não mediterrânico da União Europeia.

O azevinho é protegido pelo Decreto-Lei n.º 423/89, de 4 de dezembro, que proíbe o arranque, o corte total ou de ramos, bem como o transporte e venda de plantas espontâneas. Assim sendo, a comercialização de azevinhos produzidos em hortofloricultura requer credenciação junto do ICNF. A gilbardeira, por sua vez, é protegida pelo Anexo V da Diretiva Habitats (92/43/CEE), que contempla espécies animais e vegetais de interesse comunitário.

Escolha a que gostar mais para enfeitar a sua casa, mas lembre-se que não as pode colher na natureza.

O azevinho é uma das espécies que a The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, produz nos seus viveiros. Muitas destas, ainda que não tendo viabilidade económica, são financiadas para conservação da biodiversidade e para garantir a continuidade das espécies.