Os profissionais que trabalham na floresta, ou que a têm como objeto de estudo, desenvolvem com este ecossistema uma relação única. Muito mais do que um local de trabalho, sentem-na como um lar, um santuário ou uma fonte inesgotável de inspiração.
Patrícia Moreira, investigadora
“Foi muito interessante trabalhar com base na ideia de economia verde florestal”
Patrícia Moreira não hesitou quando lhe foi proposto, em 2018, integrar o Projeto Inpactus – Produtos e Tecnologias Inovadores a Partir do Eucalipto. “A ideia era aproveitar todos os resíduos florestais oriundos do eucalipto e da acácia para extrair compostos bioativos que pudessem trazer benefícios no combate à doença de Alzheimer e também ser usados em aplicações dermocosméticas”, explica. “Mas nunca imaginei chegar ao fim do projeto com tão bons resultados”, confessa. “Ao longo de quatro anos, fizemos testes comportamentais com o óleo de eucalipto em ratinhos transgénicos, e foram visíveis as mudanças na memória e na ansiedade, além de alterações ao nível de pele”, conta a investigadora.
Reconhecendo que é reduzido o investimento no estudo da doença de Alzheimer, devido ao “baixo grau de sucesso que é esperado, pelo desconhecimento que ainda existe”, Patrícia Moreira considera que uma maior divulgação dos resultados do Projeto Inpactus poderia levar a uma mudança de mentalidades.
Hoje, trabalha numa empresa de biotecnologia, mas não esquece o projeto que a ligou à floresta: “Foi muito interessante trabalhar com base na ideia de economia verde florestal, com o aproveitamento dos resíduos não utilizados.”
Vânia Oliveira, responsável de aproveitamento de terras
“Na floresta, todos os dias aprendemos coisas novas”
Vânia Oliveira licenciou-se em Engenharia do Ambiente, mas trabalha há 14 anos na área de gestão florestal e adora o que faz: “É um trabalho muito gratificante. É meter os pés na terra, ir para o campo, falar com pessoas e ouvi-las, envolvermo-nos localmente”.
E o que faz, exatamente, um responsável de aproveitamento de terras? “A minha atividade consiste no aproveitamento múltiplo dos espaços agroflorestais, contribuindo para a sua rentabilização económica, social e ambiental. Nomeadamente através da venda de produtos florestais não lenhosos, como a cortiça e as pinhas, e outros serviços/atividades relacionados com a floresta, como, por exemplo, a caça e a pastagem de gado”, explica.
E o trabalho de campo é uma escola. “A aprendizagem e formação que tenho no terreno, não a teria noutro lado. Na floresta, todos os dias aprendemos coisas novas. E, localmente, toda a gente sabe o que a floresta vale, mas ainda há um desconhecimento enorme sobre o que a gestão florestal implica, particularmente para quem se encontra fora dos meios rurais”, admite.
Como deve ser passado esse conhecimento? “Através dos meios de comunicação, das escolas… Devia haver mais sensibilização nas escolas sobre o que a floresta nos pode dar e de que forma devemos trabalhá-la e preservá-la.”
Tiago Rodrigues, Cheefe de equipa de motosserristas (segundo a contar da esquerda)
“Acabei por me apaixonar pelo trabalho na floresta”
A completar 22 anos de ligação e de paixão pela floresta, Tiago Rodrigues revela que é esse o trunfo que lhe permite chefiar a equipa de motosserristas da Leitão & Cavaleiro, empresa sediada em Coimbra e especialista em manutenção florestal. “Desisti da escola para entrar na empresa e acabei por me apaixonar por isto”, recorda, apesar de reconhecer que “é um trabalho duro e, muitas vezes, feito em condições adversas.”
A manutenção da floresta é o principal foco da atividade, o que abrange desde a alocação no terreno, à plantação, adubação e aplicação de fitofármacos. “Como chefe de equipa”, explica Tiago Rodrigues, “preparo o plano de trabalho para o dia seguinte, bem como máquinas e equipamentos necessários, e passo o briefing a todos”.
Olhando para o contexto atual da floresta, identifica dificuldades em “cativar” pessoas para trabalhar no setor. Mas também há mudanças positivas, enumera: “Agora há formação, o que não acontecia quando comecei. Além disso, o equipamento de proteção individual é obrigatório, o que reforça a segurança de todos, e temos de respeitar as regras relacionadas com a proteção das linhas de água, lagoas, rios e estruturas em ruínas, o que é essencial para a boa gestão das florestas.”
Rui Mataloto, arqueólogo
“Os espaços arqueológicos estão, muitas vezes, na floresta”
A forte ligação de Rui Mataloto à floresta é uma história antiga, que se inicia por via da sua profissão: “Há múltiplos aspetos que ligam a arqueologia à floresta. O nosso trabalho é perceber onde houve ocupação humana, ao longo dos tempos. Trabalharmos para preservar os espaços arqueológicos, que estão, muitas vezes, na floresta”, explica o arqueólogo do Município do Redondo (Alentejo), que coordena, desde 2018, as escavações no Castelo Velho da Serra d’Ossa.
“Intervimos numa área de 10 hectares, localizada numa propriedade da The Navigator Company. Temos equipas de voluntários, sobretudo alunos de universidades estrangeiras, que, no verão, colaboram nas escavações arqueológicas”, conta. Para tudo resultar, a segurança garantida pela empresa é determinante: “É o que nos permite trabalhar no coração da floresta, em pleno agosto. Estamos sempre em contacto com os responsáveis da Navigator”.
Uma articulação fundamental, que já possibilitou resultados relevantes: “Encontrámos vestígios de ocupação, como peças de cerâmica, lareiras e cabanas de planta circular, da idade do Bronze final, ou seja, com três mil anos.”