O conhecimento como base para florestas sustentáveis e valorizadas

5 de Maio 2025

Helena Pereira, presidente do Conselho Científico do Fórum do Eucalipto, enquadra esta iniciativa, herdeira de décadas de conhecimento produzido em Portugal sobre as florestas plantadas de eucalipto.

As florestas que hoje ocupam grande parte do território de Portugal são um exemplo excecional de como a vontade e o engenho humanos se podem aliar à natureza, criando paisagens diversificadas com um papel ativo ecológico e económico. Percorrer o país a olhar para as suas árvores mostra um mapa diverso de cores, formas e mosaicos, assim como de modos de gestão e de utilização. As folhosas do norte do país, com os seus vermelhos e amarelos outonais e copas exuberantes, contrastam com o verde escuro e troncos rudes dos pinheiros das serras do centro, ou com as formas esguias e a folhagem verde azulada dos eucaliptais que se estendem pela metade mais litoral do território. Mais a sul, são as extensões abertas de montados que marcam a paisagem, com a singularidade dos sobreiros em exploração de cortiça.

As florestas de hoje são maioritariamente o resultado da ação humana e de plantações. A elas se deveu o aumento substancial da área de florestas do país, que passou de menos de 10% em meados do séc. XIX para os atuais mais de 30%, suportado por políticas públicas e intervenções vigorosas, nem sempre isentas de contestação. As plantações foram feitas em parte pelos serviços florestais, por exemplo, a arborização das serras e baldios do norte e centro, mas principalmente por privados com apoio financeiro de programas nacionais e europeus. Para além dos benefícios ambientais das plantações – fixação de solo e controlo de erosão, qualidade da água das bacias hidrográficas, ecossistema para fauna e flora –, estas trouxeram recursos renováveis determinantes para a economia do país, que seria hoje bem mais pobre sem as suas florestas plantadas. A valorização dos produtos florestais através de cadeias industriais dedicadas teve um sucesso inegável e permitiu a Portugal ter hoje uma posição importante no panorama internacional do papel e da cortiça.

Um traço importante desta construção das florestas e indústrias florestais portuguesas, e sem dúvida grande contributo para o seu sucesso, foi a competência técnica e o conhecimento científico criados para acompanhar os processos tanto a nível florestal como industrial. Foi notável a criação, há quase 50 anos, de um centro de investigação universitário, o Centro de Estudos Florestais no Instituto Superior de Agronomia, e da Estação Florestal Nacional como unidade orgânica do INIA, focados no conhecimento sobre o eucalipto e as plantações de eucalipto que então começavam, assim como sobre a qualidade da madeira para a produção de pasta e papel. As empresas acompanharam poucos anos depois esta procura de conhecimento, instalando ensaios e fazendo estudos, primeiro a Celbi e logo a seguir a Portucel e a Soporcel, existindo hoje um importante centro de investigação independente, o Raiz, suportado principalmente pela The Navigator Company. Portugal esteve na vanguarda internacional do conhecimento sobre o ecossistema, a silvicultura, a exploração, a qualidade tecnológica e o processamento industrial da espécie Eucalyptus globulus, e muitos dos países que posteriormente desenvolveram plantações de eucaliptos, por exemplo Chile e Brasil, beneficiaram do conhecimento gerado pelos investigadores e técnicos portugueses.

Como investigadora, tive a oportunidade de participar neste processo científico e fui testemunha da consideração internacional dada ao nosso conhecimento. E foi também muito estimulante ver que os novos conhecimentos eram incorporados pelas empresas e sociedade, dinamizando a inovação industrial e florestal. Foi por isso com entusiasmo que assisti ao lançamento do Fórum do Eucalipto pela The Navigator Company, reunindo as parte interessadas – técnicos, investigadores, proprietários, empresas operadoras, ativistas ambientais, consultores, decisores e outros –, para discussão das múltiplas vertentes associadas às plantações de eucalipto (ecológicas, sociais e económicas) e integrando o conhecimento com as perceções existentes, deste modo lançando as bases para iniciativas participadas de educação, disseminação e intervenção. Um Conselho Científico, externo e independente, que tenho o privilégio de coordenar, enquadra cientificamente este processo, e a sua criação mostra o caráter aberto e rigoroso com que se encara este Fórum. A síntese compreensiva do que se sabe sobre os eucaliptais em Portugal, integrando a sua evolução, papel nos ecossistemas, riscos ambientais e sustentabilidade, importância económica e inovação, a disponibilizar brevemente para a sociedade, irá ser um resultado importante. Ao longo destes meses, o trabalho com todos os que participam no Fórum tem sido uma experiência muito enriquecedora e, sem dúvida, um marco importante no meu percurso científico.

Por Helena Pereira, Professora Catedrática Emérita do Instituto Superior de Agronomia Presidente do Conselho Científico do Fórum do Eucalipto.

Foi com entusiasmo que assisti ao lançamento do Fórum do Eucalipto pela The Navigator Company, para discussão das múltiplas vertentes associadas às plantações de eucalipto (ecológicas, sociais e económicas) e integrando o conhecimento com as perceções existentes, deste modo lançando as bases para iniciativas participadas de educação, disseminação e intervenção.