O falcão-peregrino, os ecossistemas e a saúde humana

17 de Dezembro 2024

Supersensível aos contaminantes que existem no ambiente, este caçador exímio deve, segundo um novo estudo, ser monitorizado de forma mais assídua – a bem da sua proteção, mas também em prol de políticas de saúde pública mais eficazes.

A vulnerabilidade do falcão-peregrino (Falco peregrinus) aos poluentes ambientais é conhecida no meio científico. Essa caraterística faz dele um “barómetro” precioso da saúde dos ecossistemas, e um indicador do complexo equilíbrio entre o progresso humano e a saúde ambiental.

Um novo estudo, publicado no mês passado na revista científica Environments, vem demonstrar como esta espécie pode fornecer informações críticas sobre a integridade e os níveis de contaminação dos habitats onde está presente. A sua monitorização pode ser determinante não apenas para orientar ações de conservação, mas também para “investigar o impacto dos poluentes ambientais na saúde humana”, defende Antonio Giordano, fundador e diretor da Sbarro Health Research Organization (SHRO) e um dos autores do trabalho, num artigo publicado no website de divulgação científica Phys.org.

“A integração dos dados da monitorização dos falcões em quadros mais amplos de saúde ambiental aumentará a nossa capacidade de detetar e mitigar os efeitos da contaminação, apoiando, em última análise, a preservação da biodiversidade, a integridade dos ecossistemas e o bem-estar humano para as gerações futuras”, pode ler-se nas conclusões do estudo. Ou seja, ao reconhecer o falcão-peregrino como um bioindicador crítico, será possível construir estratégias de conservação e iniciativas de saúde pública mais eficazes. Os autores do estudo defendem, assim, a adoção de uma estratégia “One Health” (Uma só Saúde), que enfatize ainda mais a ligação entre a vida selvagem, os seres humanos e a saúde ambiental. O falcão-peregrino será uma fonte privilegiada de indicadores relevantes.

👉 “One Health” é uma abordagem integrada e unificadora para equilibrar e otimizar a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é particularmente importante para prevenir, prever, detetar e responder a ameaças globais à saúde pública, como a pandemia da COVID-19.

A vulnerabilidade de um poderoso predador

O falcão-peregrino é o animal mais rápido do planeta e é também o maior falcão que vive em Portugal. Caça em voo aves de pequeno porte, que constituem a quase totalidade da sua alimentação. Para as capturar, começa por voar, subindo a grande altitude. Depois de avistar a presa, faz um voo picado sobre ela, chegando a atingir mais de 350 km/h numa descida vertiginosa, mas “cirúrgica”. Esta espécie de superpoder coexiste, contudo, com uma enorme vulnerabilidade a certas ameaças invisíveis.

Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o aumento da utilização de agroquímicos afeta as populações de falcão-peregrino em Portugal. Sendo uma espécie ornitófaga (que se alimenta quase exclusivamente de aves) e situando-se no topo da cadeia alimentar, acumula no seu organismo os produtos tóxicos que consome através das suas presas. Em algumas regiões de Espanha comprovou-se uma baixa produtividade associada a um elevado uso de pesticidas, adianta o ICNF.

A nível global, o estado de conservação do Falco peregrinus é “Pouco Preocupante”, segundo a avaliação da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Em Portugal, no entanto, a espécie está classificada como “Vulnerável” pela Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental 2022.

De acordo com o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal Continental, existirão em território nacional apenas entre 100 e 200 casais, que escolhem, para nidificar, escarpas e zonas rochosas, afastadas da presença humana.

👉 O falcão-peregrino foi avistado em propriedades geridas pela The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, em diferentes regiões do país: no Zambujo (Parque Natural do Tejo Internacional) e também nas zonas de Castro verde, Setúbal e Amarante. É uma das mais de 250 espécies de fauna que beneficiam das ações de Conservação da Biodiversidade que a companhia implementa nos seus cerca de 107 mil hectares de floresta, em Portugal continental. Estas ações integram toda uma estratégia de gestão florestal responsável, que tem na conservação um valor prioritário.