O futuro da humanidade passa pela floresta

26 de Janeiro 2023

Palavras como “ciclo”, “renovável”, “harmonia” e “natureza” fazem parte do léxico de um novo paradigma de desenvolvimento que vem dar resposta aos grandes desafios atuais da humanidade. É a bioeconomia circular, na qual a floresta tem um papel fundamental.

Anualmente são extraídos 100 mil milhões de toneladas de materiais em todo o mundo – um valor que é quase quatro vezes superior ao que se verificava há 50 anos. Mais de 90% desses materiais acabam por ser descartados, ou seja, menos de 10% regressam ao processo produtivo. Este valor, que traduz o nível reduzido da circularidade que vivemos atualmente, caiu de 9,1% em 2018 para 8,6% em 2020. São dados do Circularity Gap Report e fazem a ‘radiografia’ de um modelo económico linear, caracterizado por elevados níveis de desperdício.

Segundo a Organização das Nações Unidas, em 2050 seriam necessários quase três planetas para fornecer os recursos indispensáveis à sustentação dos atuais estilos de vida. Acrescentando a pressão do crescimento populacional, as alterações climáticas e a degradação de solos e ecossistemas, torna-se evidente que o futuro da humanidade depende da mudança para um paradigma radicalmente diferente.

A bioeconomia circular surge como resposta e, dentro desta, a floresta tem um papel primordial.

A inspiração que vem da natureza

A bioeconomia circular é um conceito que junta os princípios da “bioeconomia” com os da “economia circular”. À primeira, vai buscar a utilização de matérias-primas de origem biológica e renováveis, à qual junta o valor-chave da circularidade em que se baseia a segunda.

Neste modelo económico, inspirado nos ciclos da natureza, as matérias-primas renováveis irão substituir as de origem fóssil. Florestas, plantas, animais e microrganismos estarão na origem dos bioprodutos, e os recursos serão geridos a longo prazo, em modo contínuo e circular.

Ao contrário do modelo económico linear tradicional, segundo o qual “extraímos – produzimos – descartamos”, na bioeconomia circular o reaproveitamento é um conceito-chave. Ou seja, os produtos são recuperados, dando origem a novas utilizações.

As soluções que a floresta oferece

Pode parecer que se trata de um futuro longínquo, mas já está a acontecer, incluindo em Portugal. O Plano de Ação para a Bioeconomia Sustentável – Horizonte 2025 é o roteiro que, no nosso país, orienta esta transição. Foi aprovado em Conselho de Ministros em novembro de 2021 e comporta cinco eixos de intervenção, que vão da produção sustentável e da utilização de recursos biológicos de base regional até ao desenvolvimento de uma bioindústria circular, através da investigação e inovação, valorizando a capacidade científica e tecnológica nacional. Enquadra ainda medidas previstas no Plano de Recuperação e Resiliência quanto à promoção da Bioeconomia Sustentável, que representam um investimento global de 145 milhões de euros.

Portugal encontra-se numa posição privilegiada para liderar a transição para a bioeconomia circular na Europa, segundo considerou o relatório “Mapping Portugal’s bio-based potential”, do BIC – Bio-based Industries Consortium, de março de 2021. As indústrias da “alimentação e bebidas”, da “pasta e papel” e “do processamento de madeira” são, neste documento, identificadas como três dos motores nacionais para a mudança.

A floresta é uma peça primordial neste novo modelo de desenvolvimento, como refere Marc Palahi, diretor do European Forest Institute e presidente da Circular Bioeconomy Alliance, organismo criado em 2020 com o objetivo de impulsionar a transição para um modelo económico neutro em termos de clima, inclusivo, próspero e em harmonia com a natureza: “As florestas são fundamentais na transição para uma bioeconomia circular. Não só porque são a nossa principal infraestrutura biológica, o nosso maior sumidouro de carbono terrestre e o principal guardião da biodiversidade, mas também porque são a mais importante fonte de recursos biológicos não alimentares”.

Nesta bioeconomia circular de base florestal, as florestas plantadas geridas de forma responsável desempenham um papel crucial, ao estarem na origem não só de bens e serviços valorizados pelo mercado, tais como a madeira, a cortiça ou a resina, mas também de um conjunto de externalidades positivas decorrentes das práticas de gestão sustentável – como o sequestro de carbono, a produção de oxigénio, a promoção de biodiversidade, a proteção do solo, a regulação dos regimes hidrológicos torrenciais ou a criação de amenidades paisagísticas.

A liderar o caminho

A The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, está na vanguarda da transição para uma bioeconomia circular de base florestal. Dos 15 compromissos incluídos na sua Agenda de Gestão Responsável 2030, os dois iniciais são reveladores da prioridade atribuída pela empresa a este domínio. O primeiro preconiza “desenvolver bioprodutos sustentáveis, reduzindo a dependência dos recursos fósseis e promovendo a descarbonização da economia”, enquanto o segundo estabelece a promoção da “cocriação científica e tecnológica no domínio da bioeconomia e dos bioprodutos”.

A gama gKraft de papéis de embalagem, lançada no final de 2021, é já uma realidade enquanto solução sustentável num mercado tradicionalmente dominado pelos plásticos de uso único. Esta área ganhou recentemente um novo impulso, com a aprovação, pelo Plano de Recuperação e Resiliência, da agenda mobilizadora From Fossil do Forest – Produtos de Embalagem Sustentáveis para Substituição do Plástico Fóssil, promovida por um consórcio de 27 entidades liderado pela The Navigator Company, cujo investimento global totaliza 103 milhões de euros.

Noutra frente de desenvolvimento, a Navigator apresentou recentemente os resultados do Inpactus – Produtos e Tecnologias Inovadores a Partir do Eucalipto, o maior investimento de sempre em Portugal num projeto de I&D no domínio da bioeconomia de base florestal, no montante de 14,6 milhões de euros. Desenvolvido em copromoção com o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, e as universidades de Coimbra e de Aveiro, contando ainda com outras entidades parceiras, o Inpactus focou-se na promoção de uma nova geração de bioprodutos, na criação de produtos inovadores e diferenciadores, assim como no desenvolvimento de potenciais novos negócios. Ao longo de quatro anos e nove meses, a qualidade da investigação e desenvolvimento tecnológico deste projeto materializou-se em 37 patentes submetidas ou em preparação.