O planeta começa em casa: ideias para viver com mais natureza

21 de Abril 2025

Temperaturas a subir, ecossistemas a desaparecer, espécies em risco – os alertas sobre o estado do planeta multiplicam-se e deixam-nos sem saber o que fazer. E se começássemos… em casa?

Trazer a natureza para dentro de casa é mais do que uma tendência estética. É uma forma concreta de contribuir para cidades mais sustentáveis, estilos de vida mais equilibrados e uma relação mais saudável com o planeta que habitamos.

Vai resolver, por si só, as grandes questões ambientais? Não. Mas tem um valor simbólico e prático: ensina-nos a cuidar, a esperar, a observar ciclos naturais, e isso é essencial para mudar a forma como nos relacionamos com o planeta.

Vivemos maioritariamente em espaços construídos, com horários apertados e rotinas digitais. Segundo a ONU, mais de metade da população mundial vive em zonas urbanas, e essa proporção continua a crescer. Com ela, cresce também o afastamento da natureza – um fator associado ao aumento do stress, da ansiedade e até de doenças respiratórias.

Plantar, cuidar, observar o ciclo de vida de uma planta ou cultivar alimentos em casa são formas de restabelecer essa ligação perdida, com impactos reais no bem-estar e na consciência ambiental.

O convite é simples: pensar global e agir (muito) local, reconstruindo a ligação com a natureza a partir do lugar mais próximo que temos – a nossa casa.

Plantas em casa: purificar o ar (e o espírito)

A ideia de que as plantas purificam o ar não é um mito: há evidências científicas de que algumas espécies ajudam a reduzir compostos voláteis e partículas finas, além de regularem a humidade do ar.

Por exemplo, num estudo levado a cabo pela NASA, espécies como a espada-de-São-Jorge, o lírio-da-paz, o clorofito ou a jiboia revelaram-se eficazes na remoção de poluentes como benzeno ou formaldeído – comuns em ambientes fechados.

Mas o impacto vai além da qualidade do ar: estudos da Universidade de Exeter, no Reino Unido, mostraram que ter plantas no espaço doméstico ou de trabalho pode aumentar a concentração, reduzir o stress e melhorar o humor. Ou seja, mais verde, menos burnout.

Agricultura urbana

As hortas urbanas já deixaram de ser uma excentricidade. Hoje, são parte das estratégias de resiliência alimentar em várias cidades do mundo. Cultivar localmente o que se consome reduz a pegada de carbono associada ao transporte e à refrigeração de alimentos, e ajuda a combater o desperdício.

Mesmo em apartamentos, é possível cultivar ervas aromáticas, alfaces, rúcula, morangos ou tomates-cereja, com métodos de baixo consumo de água, como vasos autoirrigáveis ou sistemas hidropónicos simples. É uma forma de reaprender o tempo da natureza e de reduzir a dependência de cadeias de produção intensiva.

Micro jardins de biodiversidade

A perda de biodiversidade é uma das crises silenciosas do nosso tempo. E os polinizadores – como abelhas, borboletas e escaravelhos – estão entre os mais afetados, em parte devido à urbanização acelerada, que fragmenta os habitats naturais e reduz as fontes de alimento.

Mas há formas criativas de ajudar, mesmo no meio da cidade. Uma delas passa pela criação de micro jardins de biodiversidade: pequenos espaços verdes, como floreiras e vasos, que oferecem abrigo e alimento a insetos úteis.

A ideia das chamadas “insect highways” (corredores para insetos) tem vindo a ganhar força em várias cidades europeias. O conceito é simples: se cada varanda, jardim ou telhado funcionar como uma “paragem” segura, os polinizadores conseguem mover-se com mais facilidade entre zonas verdes, mesmo em contextos urbanos densos.

Criar um micro-habitat deste tipo é mais fácil do que parece. Plantas como lavanda, alecrim, tomilho, calêndula, sálvia ou borragem são ótimas fontes de néctar. Evitar pesticidas e deixar um pouco de “desarrumação” (como folhas secas ou ramos) também ajuda a criar abrigo para insetos benéficos.

Plantas e conforto térmico

Em cidades cada vez mais quentes, as plantas são aliadas na regulação térmica. Lisboa, por exemplo, é a 11ª capital europeia com menor cobertura de árvores, de acordo com a Agência Europeia do Ambiente.

Como podemos ajudar na nossa casa? No exterior, plantas trepadeiras em pérgulas ou muros podem reduzir significativamente a radiação solar sobre paredes e janelas. Já no interior, vasos estrategicamente colocados ajudam a baixar a temperatura ambiente, especialmente em combinação com ventilação natural.

Este tipo de soluções pode reduzir o uso de ar condicionado e o consumo de energia elétrica, contribuindo para mitigar o impacto ambiental do setor residencial, um dos que mais cresce em termos de emissões – de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), os edifícios são responsáveis por cerca de 40% do consumo global de energia e 33% das emissões de CO2.

No fundo, cuidar de plantas, cultivar alimentos ou criar pequenos refúgios verdes em casa pode parecer pouco, mas são “gestos semente”. Uma semente que nos liga à terra, muda hábitos e cria ambientes mais saudáveis. Ao transformar os nossos espaços, cultivamos também uma nova forma de estar no mundo: mais atenta, mais consciente e mais próxima da natureza. E é dessa ligação que poderá nascer uma mudança maior.