A grafologia procura desvendar os mistérios da personalidade através da análise detalhada da escrita manual. Uma simples lista de compras, em papel, pode ser muito reveladora.
“Diz-me como escreves, dir-te-ei quem és”. O fundamento da grafologia em forma de ditado popular é a maneira mais simples que explicar do que trata esta abordagem. Mais do que meros riscos sobre papel, a caligrafia é uma expressão íntima de quem somos, revelando características da nossa identidade pessoal. Particularidades como a complexidade do traço, o tamanho e forma das letras, o espaçamento entre palavras, a inclinação e a pressão aplicadas, configuram uma linguagem própria, reveladora de certos aspetos de personalidade para quem se dedica ao estudo da grafologia. A assinatura, por exemplo, é um elemento relevante neste tipo de avaliação, podendo, dizem os especialistas, revelar o grau de autoestima ou de insegurança, consoante a complexidade ou inexistência de sublinhados e floreados. A escrita à mão torna-se, assim, uma forma de comunicação única e autêntica, que carrega a singularidade do autor.
Uma ferramenta ao serviço do recrutamento e da psicologia
Apesar de não ser considerada uma ciência, porque não existe uma base científica que sustente os seus pressupostos, a grafologia é hoje uma técnica utilizada em diversos campos da psicologia, como complemento a outras formas de avaliação que auxiliam no diagnóstico e compreensão do comportamento humano.
Mais recentemente, tem vindo a ganhar destaque na área de seleção e recrutamento profissional. Ao permitir a identificação de cerca de 300 traços de personalidade, muitos profissionais de Recursos Humanos apostam na análise grafológica como auxílio para a identificação de características desejáveis num indivíduo para determinadas funções.
Sublinhe-se que a grafologia não deve ser confundida com a análise de caligrafia forense, que se dedica à investigação de documentos com base nos traços gráficos da escrita, de modo a aferir a autenticidade de assinaturas ou a identificação da autoria de um texto, por exemplo.
Celebrar a escrita em papel
A grafologia pode dar-nos uma perspetiva interessante sobre traços de personalidade a partir da letra manuscrita, mas a verdadeira magia reside na arte intemporal de colocar palavras no papel.
Vários estudos comprovam que escrever em papel ativa determinadas áreas do cérebro e permite uma aprendizagem mais orgânica, além de que melhora a memória e facilita a compreensão e a retenção de informações. Num dos mais conhecidos, realizado por Pam A. Mueller, da Universidade de Princeton, e Daniel M. Oppenheimer, da Universidade da Califórnia, os investigadores focaram-se no processo dos alunos ao tirar notas, comparando os que o faziam no teclado e os que o faziam à mão, em papel. A conclusão está espelhada no título do trabalho: “The Pen Is Mightier Than the Keyboard”, ou seja, a caneta é mais poderosa que o teclado.
Num cenário dominado pela tecnologia digital, preservar e dominar a técnica de “desenhar” palavras é cada vez mais importante. Daí que a 23 de janeiro — Dia Mundial da Escrita à Mão — se celebre esta revolucionária invenção humana nascida há mais de três mil e quinhentos anos, na Suméria.