Ó rama, ó que linda rama

26 de Novembro 2025

Embora seja uma das árvores mais comuns no território português, um pilar da nossa gastronomia e um elemento cultural estruturante, a oliveira ainda tem segredos por desvendar. Hoje, propomos olhar para ela com mais atenção.

A oliveira é uma dessas presenças silenciosas que moldam paisagens, histórias e modos de vida. Vive devagar, resiste muito, atravessa séculos e acompanha gerações. Não surpreende que, em 2019, a UNESCO tenha criado o Dia Mundial da Oliveira, celebrado a 26 de novembro.

Em Portugal, basta um olhar atento para perceber como esta árvore está entranhada no quotidiano. Cresce em encostas pedregosas e em socalcos cuidados, marca fronteiras de quintas, vigia casas antigas e acompanha estradas rurais. Está no prato, no imaginário, nos nomes, nas tradições que passam de avós para netos. Faz parte da paisagem e da memória.

A espécie e as suas variantes

De nome científico Olea europaea, a oliveira é uma das árvores cultivadas pelo ser humano há mais tempo. Típica de toda a bacia do Mediterrâneo, adaptou-se ao clima quente e seco, fixou-se nos solos pobres e rochosos e encontrou nos verões longos o tempo de que precisa para amadurecer o fruto.

Em Portugal, é uma espécie autóctone e cresce espontaneamente desde tempos imemoriais. A partir da forma brava (Olea europaea var. sylvestris), também conhecida como zambujeiro, desenvolveu-se a forma cultivada, Olea europaea var. europaea, selecionada sobretudo pela produção de azeitona e azeite.

A oliveira cultivada encontra-se em todo o território de Portugal continental, resultado das plantações feitas por diferentes povos que passaram pela Península Ibérica e das práticas agrícolas que se mantiveram até hoje, desde sistemas tradicionais a explorações mais intensivas. Já o zambujeiro tem uma distribuição mais restrita – ocorre sobretudo no centro e sul do país, e no vale do Douro, em áreas secas, com solos pobres, rochosos ou pedregosos.

Na Madeira existe ainda a oliveira-da-madeira (Olea maderensis), uma espécie distinta da Olea europaea. É endémica do arquipélago e foi dominante na antiga floresta nativa conhecida como Zambujal.

A oliveira pode viver milhares de anos e tem uma notável capacidade de adaptação, mesmo quando as condições de solo e clima são menos favoráveis. Tornou-se, por isso, um símbolo universal de longevidade e resistência. Em muitas culturas e religiões representa também paz, sabedoria e esperança, e os seus ramos figuram no logótipo e na bandeira das Nações Unidas.

O azeite que une tradição, cultura e economia

O azeite, produzido a partir das azeitonas, está profundamente ligado ao quotidiano alimentar dos portugueses e a inúmeras receitas tradicionais. É um ingrediente transversal, capaz de dar caráter aos pratos ou de brilhar sozinho, servido com um bom pão no início da refeição. Está também no centro da Dieta Mediterrânica, reconhecida em 2013 pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, um reconhecimento que sublinha a importância cultural e gastronómica da oliveira e do seu fruto.

Mas o azeite não é apenas sabor e tradição. Tem também um peso significativo na economia nacional. Portugal ocupa o quinto lugar no ranking mundial de produção e, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), produziu em 2023 cerca de 140 mil toneladas, um aumento de 30 por cento face à média da última década. No mesmo ano, as exportações atingiram 1,1 mil milhões de euros, de acordo com a AICEP, crescendo 15 por cento face a 2022. Cerca de 80 por cento da produção nacional é exportada para quase 100 países.

Da mesa à paisagem, onde cresce uma oliveira cresce também uma certa ideia de tempo. O tempo lento das raízes, o tempo cuidado da poda, o tempo da maturação das azeitonas e o tempo da colheita que marca o fim do ano agrícola. Olhar esta árvore de perto é reconhecer a força discreta que atravessa a nossa história.