Com uma aparência quase extraterrestre, os louva-a-deus misturam beleza e ferocidade: mestres da camuflagem, revelam como a natureza pode ser engenhosa, surpreendente… e implacável.
Parecem saídos de um filme de ficção científica: corpos angulosos, olhos enormes, patas dianteiras dobradas como se rezassem. Os louva-a-deus são insetos fascinantes, que combinam beleza e eficácia mortal. Caçadores pacientes, permanecem imóveis durante longos minutos, esperando, muitas vezes disfarçados, que a presa se aproxime para a agarrar com a velocidade de um relâmpago.
Há mais de 2.400 espécies de louva-a-deus descritas no mundo, espalhadas por todos os continentes, exceto a Antártida. Venha descobrir algumas delas, cada uma com os seus segredos.
Mestres da camuflagem
O que mais impressiona é a forma como a natureza os vestiu para sobreviver. Algumas espécies parecem folhas secas, com nervuras desenhadas no corpo; outras confundem-se com ramos ou imitam pétalas de flores exóticas. A camuflagem não serve apenas para escapar a predadores: também transforma estes insetos em armadilhas vivas, prontas a enganar presas incautas.
Os exemplos mais exuberantes vêm de longe: o louva-a-deus-orquídea (Hymenopus coronatus), da Malásia e do Sudeste Asiático, com tons rosa que lhe permitem confundir-se com flores tropicais; o louva-a-deus-fantasma (Phyllocrania paradoxa), de África, cujo corpo imita uma folha seca; ou o impressionante Idolomantis diabolica, também africano, conhecido como “louva-a-deus do diabo”, com cores intensas e posturas de defesa teatrais.
Outros parecem ilustrações fantásticas de um livro de botânica: o Pseudocreobotra wahlbergii, da África Subsariana, exibe manchas semelhantes a olhos nas asas e um padrão verde e branco que engana até insetos polinizadores; já o Choeradodis rhombicollis, nativo da América Central e do Sul, tem o tórax em forma de folha e até consegue vibrar como se fosse movido pelo vento. E há ainda o Acanthops falcata, da América do Sul, especialista no disfarce em forma de folha morta enrolada, que transforma a simplicidade de um detrito em invisibilidade quase perfeita. Cada um deles é uma demonstração viva de como a camuflagem pode ser ao mesmo tempo engenhosa e esteticamente surpreendente.
Em Portugal também encontramos exemplos disso mesmo. Por cá, a espécie mais comum é o Mantis religiosa, o louva-a-deus-europeu, geralmente verde, embora também possa ser castanho ou amarelado. Está distribuído por todo o país e é relativamente fácil de observar nos meses quentes. Outra espécie presente é o Empusa pennata, inconfundível pelas antenas plumosas e pela espécie de “coroa” que exibe na cabeça.
Outros superpoderes
As capacidades extraordinárias dos louva-a-deus não se ficam pela camuflagem. Estes insetos conseguem rodar a cabeça até 180 graus, conquistando um campo de visão quase panorâmico. Além disso, contam com dois olhos compostos e três olhos simples, os chamados ocelos, que lhes dão uma visão estereoscópica muito precisa, permitindo calcular distâncias de forma quase cirúrgica.
Outra característica única é o facto de terem apenas um ouvido, localizado no tórax. Esse ouvido solitário é especializado em detetar sons ultrassónicos e funciona como um radar contra morcegos predadores. E, embora a sua dieta habitual consista sobretudo em insetos, há registos de louva-a-deus a capturar presas bem mais ambiciosas, como pequenos lagartos, aves e até ratos, revelando toda a sua versatilidade enquanto caçadores.
E há ainda a faceta, mais sombria, que intriga cientistas e curiosos: em algumas espécies, a fêmea pode devorar o macho após a cópula, comportamento que fornece energia extra para a produção de ovos. Um exemplo extremo da lógica implacável da natureza.
Enigmáticos, engenhosos e muitas vezes belíssimos, os louva-a-deus mostram-nos como a evolução cria soluções criativas para o desafio da vida. Da folha seca ao ramo imóvel, da flor tropical ao arbusto mediterrânico, estes insetos são a prova de que a natureza sabe ser artista e, ao mesmo tempo, estratega.