Edifícios imponentes ou simples nascem de traços mais ou menos rudimentares de arquitetos. O branco de uma folha de papel é a génese da maioria das obras que passam ao betão.
O desafio é sempre o mesmo: tornar conceitos abstratos em estruturas tangíveis que, além de atender a necessidades funcionais, sejam capazes de inspirar e cativar. Estruturas que tenham vida, mesmo na imobilidade do betão.
É com esta motivação que os arquitetos fazem as linhas fluir no papel, para que as ideias fiquem capturadas e reféns da imaginação que, muitas vezes, as há de levar para evoluções muito diferentes.
Antes do esboço, há muito trabalho prévio de pesquisa, o mergulho na compreensão do contexto do projeto, a exploração do ambiente circundante, da cultura, das influências históricas e, claro, os pedidos do cliente.
Na posse destas informações, o arquiteto começa a esboçar. A definição de espaços e volumes, ou de como a luz interagirá com as pessoas são inquietações que acompanham os primeiros traços na brancura do papel.
Mesmo a seleção de materiais e a preocupação com a sustentabilidade antecedem a fase em que a tecnologia entra em cena, para transformar o esboço num desenho mais detalhado. Ferramentas de design assistido por computador permitem ao arquiteto visualizar a estrutura em diferentes ângulos e até mesmo simular como ela se integrará no ambiente circundante.
Mas tudo começa no papel, como nos conta a arquiteta Maria João Andrade, da MJARC Arquitetos Associados, um atelier dedicado à arquitetura sustentável:
“O desenho à mão sobre papel é um elemento crucial no processo criativo dos meus projetos. Desde sempre que me acompanha diariamente um caderno de desenho, no qual registo os primeiros esboços, ideias e princípios de muitos projetos que foram ganhando forma, materializando-se. É um processo libertador, de avanços e recuos verdadeiramente impulsionadores de momentos de criatividade, de pensamento.
Desenhar no papel é uma parte essencial no desenvolvimento de um projeto de arquitetura. O desenho sobre papel permite-me explorar diferentes ideias e conceitos de forma rápida e eficiente. Esses esboços feitos à mão levantada auxiliam-me a compreender e a desenvolver um projeto. O esboço também ajuda a visualizar as relações espaciais entre os diferentes elementos de um edifício e a sua envolvente, assim como plantas esquemáticas, cortes e alçados. Uso uma variedade de técnicas para esquiçar e desenhar diferentes elementos arquitetónicos nas suas diferentes fases, desde o lápis de grafite mais largo para os primeiros esboços até à caneta de tinta para o desenho de pormenores. Independentemente da técnica usada, a capacidade de esboçar e desenhar à mão sobre papel é para mim essencial no processo de criação enquanto arquiteta. O ato de desenhar um projeto ajuda a obter uma compreensão mais profunda do mesmo.
Considero que os benefícios de desenhar à mão sobre papel são imensos, incluindo maior criatividade, melhor comunicação visual e melhor capacidade de resolução de problemas. As ferramentas digitais não devem substituir os esboços e desenhos feitos à mão, pois estes são essenciais para a criatividade – o desenho sobre papel funciona como catalisador de novas ideias, de aperfeiçoamento de outras, e une todo o meu processo de desenvolvimento de um projeto arquitetónico, desde o conceito até á execução em obra, onde muitas vezes me auxilio do papel e caneta para melhor explicar e fazer entender uma ideia ou um pormenor.
A liberdade que o simples caderno de papel e caneta me dá para criar, seja na fase inicial, seja na de obra, é uma ferramenta indispensável no desenvolvimento dos meus projetos.”