Há ninhos que escondem verdadeiras obras de arte. Cores vibrantes, padrões incomuns e brilhos intensos são encontrados em ovos de algumas espécies de aves.
A cor e padrão dos ovos, consequência da presença de certos pigmentos, podem ter uma função antimicrobiana e de proteção da radiação solar. Tem muitas vezes também uma função de camuflagem, para passarem despercebidos aos predadores. Alguns têm manchas que se tornam também verdadeiras marcas identificativas para que os progenitores os reconheçam.
Um estudo de 2019, publicado na Nature Ecology and Evolution, veio avançar mais uma explicação para a enorme diversidade de cores de ovos: a termorregulação. Os investigadores descobriram que os ovos tendem a ser mais escuros nas zonas mais frias do planeta e mais claros, e com cores mais variadas, nas zonas mais quentes – tanto mais claros e exóticos quanto mais próximos da linha do Equador. A manutenção da temperatura no interior do ovo é um fator determinante para a sobrevivência do embrião e a cor da superfície da casca será um fator muito importante nessa regulação.
Independentemente das razões, o resultado é maravilhoso. Vale a pena conhecer alguns dos ovos mais artísticos do mundo e os seus autores.
Tordo-americano (Turdus migratorius)
Três a cinco pequenos ovos de um surpreendente azul são incubados pela fêmea do tordo-americano – também conhecido por Robin americano. A cor é tão especial que o nome da ave passou mesmo a usar-se para designar uma cor: “azul ovo de Robin”.
Macuco (Tinamus solitarius)
É uma ave pouco elegante e de penas pardas, acinzentadas, que vive no Brasil, Argentina e Paraguai. Olhando para ela, ninguém imagina que os seus ovos são dos mais impressionantes e coloridos que se conhecem. Azuis intensos ou verdes vibrantes são cores que podem ser encontradas nos seus ninhos. Estes são construídos no chão, entre raízes de grandes árvores.
Ema-australiana (Dromaius novaehollandiae)
É a segunda maior ave do mundo, a seguir à avestruz, e os seus ovos podem chegar a pesar um quilo. São dez vezes maiores do que os ovos de galinha. Mas tão impressionante como o tamanho é a sua cor e textura: um azul-esverdeado, numa casca com 1 mm de espessura, numa superfície não homogénea (em tons de azul e verde) que parece granulada. Durante a incubação, o ovo vai ganhando um tom de azul mais escuro. É o macho quem incuba os ovos.
Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria)
É uma ave migratória que nidifica no norte da Europa. Vem para os países do sul do continente, incluindo Portugal, nos meses de inverno. Os ovos, alongados, são sarapintados de manchas castanhas num fundo mais claro, amarelado.
Airo-Comum (Uria aalge)
É uma ave marinha que vive sobretudo no Atlântico Norte e Pacífico Norte. Passa a maior parte do seu tempo no mar e vem a terra para nidificar, construindo ninhos nos penhascos da costa. Cada fêmea põe apenas um ovo, grande, pintalgado de castanho num fundo que pode ser entre branco e azul. Especialistas acreditam que os desenhos na casca permitem às aves reconhecerem o seu ovo quando regressam ao ninho, vindas do mar. As ilhas Berlengas marcavam o limite sul onde esta ave nidificava, mas a espécie foi deixando de procurar terras portuguesas para reprodução e crê-se que hoje não existam mais ninhos de airo nas Berlengas.
