O nome vem da sua localização, aninhado no vale médio do maior rio do sul de Portugal. A área protegida, criada há 26 anos, segue as margens do Guadiana entre a zona do Pulo do Lobo e a foz da ribeira de Vascão, ao longo de quase 70 mil hectares de habitats ricos em biodiversidade. Venha conhecê-lo.
Dos três grandes rios que nos chegam de Espanha, o Guadiana é o que possui menor caudal e o que corre em zonas de menor altitude. Em seu torno, uma planície serpenteante, entrecortada apenas por uma ou outra elevação de pouca monta, da qual faz parte o Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG).
Localizado nos concelhos de Mértola e Serpa, o território da área protegida do Parque inclui uma grande variedade de habitats, desde margens e leitos dos cursos de água, a matagal mediterrânico, afloramentos rochosos, matos, estepes cerealíferas, montados, pousios e alqueives.
A principal unidade paisagística do PNVG é a estepe cerealífera, um agro-sistema composto por um mosaico de campos de cereais, recém-lavrados ou em pousio. Trata-se de uma paisagem aberta, dominada por plantas herbáceas, com algumas árvores e arbustos a aparecerem esporadicamente. Apresenta um elevado valor ecológico, sendo a sua conservação de extrema importância para muitas espécies de aves estepárias, algumas ameaçadas globalmente, destacando-se a abetarda, a sisão e o cortiçol-de-barriga-preta.
As zonas de afloramentos rochosos são também particularmente importantes para aves de rapina e outras espécies da avifauna ameaçadas, que encontram nas escarpas refúgio e um esconderijo perfeito para os seus ninhos. Casos da cegonha-preta, o bufo-real, a águia de Bonelli ou da águia-real.
Na região em que se insere este Parque Natural, os montados são predominantemente de azinho, dado que o sobreiro – ainda que se verifique – é menos resistente às amplitudes térmicas e à secura, ambas características desta zona. São habitats bastante ricos em fauna, nomeadamente apresentando uma grande diversidade de espécies de aves, que aqui nidificam, se abrigam ou se alimentam.
Encontramos os matos mediterrânicos nos vales encaixados dos cursos de água e numa parte da serra da Alcaria Ruiva, o ponto mais elevado do Parque Natural do Vale do Guadiana, com os seus 370 metros. Caracteriza-se por um estrato arbustivo denso e diversificado, de importância vital para a conservação dos solos, que impede o arrastamento da terra pelas águas e favorece a infiltração da água no solo. Ali encontramos espécies como a esteva, o tojo-molar e o trovisco, mas também o zambujeiro, a murta, a aroeira e a azinheira.
As zonas ribeirinhas do Parque encontram-se entre relevo acentuado. Existem grandes variações no caudal das ribeiras e não é raro que, nos meses de verão, se resumam a pegos dispersos. São o último reduto de água-doce de muitas espécies da fauna piscícola local e uma importante área de alimento para várias aves aquáticas. Em termos de vegetação, encontramos aqui o loendro, tamujo, tamargueira e silvas, bem como a aroeira, o medronheiro e os juncos. Nas zonas onde o leito de água corre mais largo, a vegetação altera-se, passando a ser composta essencialmente por salgueiros, freixos e choupo-negro. De entre as raridades da flora ribeirinha do PNVG destaca-se uma orquídea, a Spiranthes aestivalis e o trevo-de-quatro-folhas-peludo (Marsilea batardae).
O abandono de terras de pastagens ou de culturas de cereal ao longo dos tempos deu origem a vastas áreas de matos, compostas por plantas arbustivas adaptadas à elevada secura característica da região, como a esteva, o sargaço, a roselha ou o rosmaninho. Os matos de esteva são bastante utilizados por mamíferos como o javali, a raposa, o saca-rabos, o texugo, o coelho-bravo e, mais recentemente, também pelo lince-ibérico.
Enquanto não faz uma visita, pode ler aqui o livro publicado pelo ICNF aquando do 25º aniversário do Parque: https://www.icnf.pt/api/file/doc/27ddbf2d2398e709