Passadiços: a natureza é mais do que um lugar de passagem

29 de Agosto 2023

A construção de passadiços tem ganho popularidade em Portugal e em várias regiões do mundo, especialmente nas áreas naturais. Mas começam a surgir os alertas sobre os impactos que a proliferação destas estruturas, assim como a dimensão de algumas delas, pode provocar nos ecossistemas.

Proporcionam aos visitantes a experiência de explorar a natureza de forma confortável e ecológica, ao caminhar por paisagens deslumbrantes e ecossistemas preservados. No entanto, a criação de um número cada vez maior destas estruturas de madeira sobrelevadas tem sido objeto de discussão, pelos impactos em alguns ecossistemas protegidos.

Antes de se tornarem uma moda, os passadiços eram essencialmente uma forma prática de minimizar o impacto ambiental causado pela passagem das pessoas, assim como de contornar obstáculos, como pequenos lagos ou rios. Por isso mesmo, os primeiros a existir em Portugal foram implementados em zonas costeiras e dunares.

Gradualmente, os passadiços passaram a ser encarados como equipamentos recreativos, função essa que acabou por predominar, dando origem ao fenómeno turístico atual, a grandes investimentos e também a vozes de alerta.

Quais são, então, os prós e os contras dos passadiços de madeira?

Os defensores deste tipo de infraestrutura, realçam vantagens como:

  • O acesso controlado – na medida em que evitam o pisoteamento excessivo, protegendo a degradação do solo e da vegetação;
  • Inclusão e acessibilidade – por permitirem o acesso a pessoas com mobilidade reduzida e a famílias com carrinhos de criança;
  • O desenvolvimento local – ao atraírem turistas, incentiva-se a criação de negócios e de empregos.

Por outro lado, as vozes mais críticas chamam a atenção para os efeitos nefastos da exposição da natureza ao turismo de massas:

  • O impacto ambiental direto – por envolver uma intervenção no ambiente natural, como escavações e aterros, o que tem impacto na flora, na fauna e, em alguns casos, no fluxo de água e na paisagem;
  • Alterações no ecossistema – a criação de fragmentações no habitat, assim como a perturbação das suas condições naturais, afeta a mobilidade e a sobrevivência de algumas espécies;
  • Fluxo excessivo de visitantes – é acompanhado de uma pressão sobre o ambiente natural, especialmente pelo ruído e pela produção de resíduos, mas também pelo aumento da circulação automóvel e pela proliferação de vendas ambulantes, por exemplo.
  • Custo financeiro e manutenção – a construção e a manutenção dos passadiços podem ser dispendiosas, e estas estruturas têm potencial para tornar-se um problema ambiental caso não sejam devidamente mantidas, causando riscos ao nível da segurança e induzindo degradação visual.

Assim, se pensa explorar uma destas “autoestradas” na natureza, lembre-se de adotar os mesmos (ou até mais) cuidados básicos que noutros percursos ambientais: seguir as regras assinaladas; não abandonar lixo; respeitar a vida selvagem, não alimentando os animais, não recolhendo espécies vegetais e mantendo a máxima distância possível. E, claro, evitando o ruído.

Os passadiços representam uma experiência única de proximidade com a natureza. Mas os seus impactos dependem muito da forma como os utilizamos.