Planeta plástico: como chegámos aqui e o que podemos fazer
4 de Junho 2025
Este ano, o Dia Mundial do Ambiente faz soar o alarme sobre a poluição por plásticos, um dos maiores desafios ecológicos da atualidade. Num cenário em que os plásticos de uso único continuam a dominar o mercado das embalagens, começam a surgir alternativas mais responsáveis – e até falam português.
Do fundo dos oceanos ao topo das montanhas, a poluição por plásticos não tem fronteiras.
Na Fossa das Marianas, a quase 7000 metros de profundidade, um estudo recente identificou 13 500 partículas de plástico por metro cúbico de água. E no cume do monte Everest, a mais de 8000 metros de altitude, além das toneladas de resíduos visíveis, há também microplásticos invisíveis, presentes no próprio gelo.
A poluição por plásticos compromete o equilíbrio dos ecossistemas, ameaça a biodiversidade e levanta sérias preocupações para a saúde humana. Os microplásticos já foram identificados em mais de 1300 espécies animais, entre peixes, mamíferos, aves e insetos, e também no corpo humano, com efeitos ainda não totalmente compreendidos. Estas micropartículas, que ingerimos e respiramos, foram detetadas em diversos tecidos e órgãos, dos pulmões ao cérebro, da corrente sanguínea à placenta de mulheres grávidas – e até no leite materno.
Os plásticos e microplásticos estão a tornar-se parte do registo fóssil do planeta, marcando de forma irreversível a nossa era geológica, o Antropoceno. Acumulam-se em sedimentos, camadas geológicas e ambientes aquáticos, ao ponto de já terem dado nome a um novo habitat microbiano marinho: a plastisfera – um ecossistema que se desenvolve sobre fragmentos de plástico à deriva nos oceanos.
Para combater a poluição por plásticos (#BeatPlasticPollution), todos temos um papel a desempenhar. É esse o apelo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), numa verdadeira chamada à ação no âmbito do Dia Mundial do Ambiente (5 de junho). A mensagem é clara: “As escolhas que fazemos podem moldar indústrias, alterar mercados e redefinir o nosso futuro coletivo. Juntos, podemos acabar com a poluição plástica, protegendo as pessoas e o planeta.”
Um desafio que a reciclagem não resolve
Atualmente, produzem-se cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano — um volume insustentável, alerta o Programa das Nações Unidas para o Ambiente. E reciclar, por si só, não chega. “Estima-se que apenas 21% do plástico seja hoje economicamente reciclável, o que acontece quando o valor do material reciclado é suficientemente elevado para cobrir os custos de recolha, triagem e processamento”, explica a organização. Ainda assim, nem esse potencial está a ser aproveitado: apenas 9% de todo o plástico produzido a nível global está a ser reciclado.
Recicláveis, compostáveis… e feitas em Portugal!
Aproximadamente 36% de todos os plásticos produzidos são utilizados em embalagens, onde se incluem recipientes descartáveis para alimentos e bebidas. 85% destes plásticos de uso único acabam em aterros sanitários ou como resíduos não regulamentados. São números do PNUMA, que revelam a necessidade de encontrar alternativas, a jusante, para substituir estes materiais.
Entre as inovações que apontam o caminho, destaca-se a portuguesa BioShield, nova linha da marca gKRAFT. Com o selo de inovação da The Navigator Company, mentora do projeto My Planet, esta gama de celulose moldada (material que associamos tradicionalmente às caixas de ovos) foi reinventada a partir de uma nova matéria-prima. Graças à investigação científica desenvolvida no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, foi possível criar uma receita pioneira, 100% made in Portugal, que permitiu produzir, pela primeira vez no mundo, artigos de celulose moldada a partir de fibra de eucalipto (Eucalyptus globulus). Estes representam benefícios a vários níveis, para além de constituírem uma arma contra a poluição por plástico.
As soluções de celulose moldada disponíveis atualmente no mercado europeu são, na sua maioria, produzidas na Ásia, a partir de bagaço de cana-de-açúcar ou bambu, com recurso a energia elétrica gerada, em mais de 60%, a partir de carvão. A nova gama BioShield surge como uma alternativa sustentável não só às embalagens de plástico de origem fóssil, mas também a estas opções importadas de outro continente, cujo transporte para a Europa se faz à custa de uma elevada pegada de carbono (aprox. 1,35ton de CO2 por contentor). Com artigos integralmente recicláveis e/ou compostáveis, oferece vantagens claras: menor pegada carbónica associada ao transporte e maiores garantias de segurança alimentar, graças à certificação da matéria-prima – algo que, muitas vezes, não está assegurado nestes produtos importados.
A nova fábrica da Navigator dedicada à celulose moldada, no complexo industrial de Aveiro, iniciou a produção em outubro de 2024. “Foi um arranque gradual, até entrar em plena laboração, em março deste ano, com quatro linhas em funcionamento”, conta Luís Rodiles, Diretor de Molded Fiber Business na empresa. “Estamos a produzir cinco artigos que estão já no mercado, com entrada inicial nos distribuidores e Cash & Carry que servem o canal Horeca (hotéis e restaurantes) e o retalho tradicional. Em breve estarão também nas cadeias da grande distribuição”, garante o responsável.
As embalagens Bioshield já disponíveis incluem dois pratos e uma tigela (na área do tableware), uma embalagem para takeaway e uma cuvete para embalamento de carne. Cada um destes artigos representa um importante contributo nacional para a redução da poluição por plásticos. “No futuro, iremos certamente alargar esta gama com novos produtos”, avança Luís Rodiles.
Combater a poluição por plásticos exige alternativas viáveis, seguras e escaláveis. A boa notícia? Elas já estão a ser produzidas.
Graças à investigação científica desenvolvida no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, foi possível criar uma receita pioneira, 100% made in Portugal, que permitiu produzir, pela primeira vez no mundo, artigos de celulose moldada a partir de fibra de eucalipto.