Pólen: bem-me-quer, mal-me-quer

2 de Maio 2023

Fundamental para a reprodução das plantas, o pólen é também responsável por muitas reações alérgicas nos humanos, principalmente durante a primavera, quando há uma maior concentração no ar .

 

Espirros, inflamações e comichão nos olhos e no nariz, tosse, rouquidão ou dificuldades respiratórias, são sintomas provocados pelas alergias ao pólen, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Um verdadeiro pesadelo para quem sofre desta patologia.

Então, porque dizemos que é uma bênção? Porque se trata de uma substância essencial para a reprodução das plantas e, sem ele, muitas das espécies vegetais não seriam capazes de produzir frutos, sementes e novos rebentos. O pólen assume um papel crucial no equilíbrio dos ecossistemas, garantindo a reprodução e a diversidade das espécies vegetais.

 

Bem-me-quer

O pólen é uma estrutura microscópica produzida pelos órgãos reprodutivos das plantas – as flores. Tem como função transportar os gametas masculinos até aos órgãos reprodutivos femininos da vegetação, para que ocorra a fecundação e, consequentemente, a produção de novas sementes e frutos.

Mas a sua ação vai muito além da função reprodutiva. É também uma importante fonte de alimento para muitos animais, como abelhas, borboletas, besouros ou algumas espécies de pássaros e morcegos. Estes animais alimentam-se do néctar das flores, que contêm açúcares e proteínas, e acabam por transportá-lo para outras plantas, desempenhando um papel vital na polinização.

A insuficiência de pólen teria como consequência uma diminuição na produção de frutos e sementes, o que afetaria a sobrevivência de espécies vegetais e animais que dependem deste recurso para se alimentar e reproduzir. E, claro, ameaçaria também a própria sobrevivência humana, uma vez que um terço da produção mundial de alimentos depende da polinização.

 

Mal-me-quer

Para realizar com sucesso o processo de disseminação, sem depender completamente dos animais polinizadores, as plantas produtoras de pólen geram milhões de partículas minúsculas, lançando-as para o ar. Estes grãos microscópicos ficam suspensos na atmosfera e viajam, transportados pelo vento, ao longo de centenas de quilómetros.

 

É durante este processo que o pólen entra no nosso sistema respiratório, provocando reações alérgicas a tantas pessoas. Isto acontece porque o sistema imunitário procura combater o “invasor”, ativando células que produzem histamina e desencadeando os tão incómodos sintomas. No caso das pessoas com asma, o pólen pode até causar o estreitamento das vias aéreas e consequente dificuldade de respiração.

A má notícia é que as alterações climáticas parecem estar a tornar as temporadas de alergias mais extensas. De acordo com um estudo publicado em fevereiro na revista científica EMBO Reports, de investigadores das Universidades de Harvard e Stanford, o aumento das temperaturas, assim como do ozono e do CO2 na atmosfera, pode aumentar a dispersão geográfica das plantas produtoras de pólen e também prolongar a sua época de floração.

A boa notícia é que vão sendo disponibilizados cada vez mais recursos de controlo dos índices de pólen, para podermos tomar atempadamente medidas que minimizem os seus efeitos na nossa saúde. O site da Rede Portuguesa de Aerobiologia dispõe de um boletim polínico, disponibilizado pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, no qual podemos consultar as concentrações de pólen no país, por semana e por região.