Não há um grande segredo escondido por detrás dos motivos que, ao longo dos tempos, levaram o Homem a celebrar a passagem do inverno para a primavera. Mesmo para quem vive o luxo de casas com isolamento térmico e disponibilidade de alimentos fora da estação, o inverno pode ser difícil e deprimente, e a primavera é linda! É um momento mágico, em que corpo e espírito se alegram com o aumento da luz solar e com o despertar da natureza.
O mundo continua um lugar mais estranho do que o normal. Mas a natureza segue o seu curso, mais ou menos indiferente a confinamentos, teletrabalho e calendários de vacinações. Este ano, o equinócio da primavera ocorre dia 20 de março. É quando o hemisfério Norte se despede do inverno e inaugura a primavera.
O equinócio da primavera é um dos dois únicos dias do ano (o outro é o do equinócio do outono) em que dia e noite duram cada um cerca de 12 horas, em todo o mundo. Porque, nesta altura, nenhum dos polos da Terra está inclinado em relação ao Sol, fazendo com que os raios solares incidam sobre a Linha do Equador, iluminando com a mesma intensidade ambos os hemisférios. Daí o nome equinócio, palavra derivada do latim, que significa “noites iguais”.
A partir daqui, e até ao início do outono, a duração do dia passa a ser maior do que a duração da noite, porque o Sol percorre um arco mais longo e mais alto no céu todos os dias.
Então… não era dia 21?
Muitas pessoas associam o início da primavera ao dia 21 de março. E se é verdade que, no século XX, o equinócio ocorria umas vezes no dia 21 e outras no dia 20, desde 2008 que se tem mantido sempre no dia 20 de março.
Isto explica-se com o facto de o período de translação da Terra – o movimento elíptico que esta faz em torno do sol – não ser exatamente de 365 dias, mas sim de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos. Assim, num ano, a Terra atinge o ponto orbital correspondente ao equinócio cerca de 5h49m mais tarde do que no ano anterior, e assim sucessivamente. Ao fim de quatro anos, a diferença acumulada já é de uma média de 23h16m. No entanto, com a correção do ano bissexto, que se faz, também, a cada 4 anos, a data recua um dia, pelo que o equinócio atrasa os cerca de 44 minutos que “sobram”. Feitas as contas, ao fim de cerca de 30 ciclos de 4 anos, a data do equinócio recua um dia completo.
Foi por isso que, nas últimas décadas, a data ia oscilando entre os dias 21 e 20, tendo-se fixado, em 2008, no dia 20. E assim vai manter-se até 2044. A partir desse ano, o início da primavera vai começar a oscilar entre os dias 20 e 19. Este efeito, no entanto, não vai manter-se para sempre, uma vez que o ano 2100 não vai ser bissexto, deixando-nos com uma sequência de sete anos não bissextos, e isto é suficiente para que a data não recue mais do que dia 19: a oscilação entre 20 e 19 passará a uma oscilação entre 21 e 20 a partir de 2100. (Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa)
A febre da primavera
Associamos esta época do ano à renovação da natureza e da vida selvagem, com flores a desabrochar, campos a cobrirem-se de cor, árvores a recuperarem folhas e verde, pássaros a cantar e vários tipos de animais a saírem da toca para cumprimentarem o sol.
Vestimos roupas mais leves, e também nos sentimos mais leves e mais alegres. Há até quem defenda a existência da chamada “febre da primavera”, documentada desde sempre por poetas: a face fica corada, o coração bate mais depressa, sonhamos acordados e sofremos de uma inclinação acentuada para o romance. E, ao que parece, pode mesmo haver mais do que apenas uma exuberância emocional com o fim dos dias tristes de inverno, sugerindo-se uma base biológica para o aumento do humor, do desejo e da energia que vêm com o equinócio da primavera. As causas desta “febre” ainda permanecem indefinidas, mas é bastante provável que as hormonas representem um papel importante. (Se quiser aprofundar esta base mais científica, leia aqui um artigo – em inglês – da Scientific American.)
Ciência à parte, empiricamente todos sentimos que a renovação da natureza que vem com a primavera também nos renova a nós. A vontade de largar tudo e ir “brincar” lá fora, no meio das árvores, das flores e dos pássaros, apodera-se de nós. Mais ainda nesta fase, em que estamos mais fechados em casa. A boa notícia é que a natureza não nos exige distanciamento social, pelo que podemos aproveitar os dias maiores e mais quentes para participarmos ativamente nesta estação que fervilha de vida.